sexta-feira, julho 30, 2004

Cacique

(Ando a preparar dois textinhos, que me estão a dar água p'la barba. Desculpem lá esta semanita "despostada". Aproveito para avisar que andam aí uns reaças a votar no CDS, na coluna da direita. Agradeço ao pp que estiver com a revolução que vote no partido que quiser, sendo aconselhável fazê-lo no S. Abraço, até segunda)

sexta-feira, julho 23, 2004

Para Compensar

  • Inscrevi-me como voluntário na campanha de John Kerry. Sempre quero ver se os gajos têm coragem de me contactar.
  • Must

  • Raramente se encontram sites tão bem esgalhados.



  • Carlos Paredes 16/02/1925-23/07/2004

    À família, amigos e companheiros de toda a vida, as minhas sinceras condolências. Ao mestre um obrigado único por tudo o que os seus sons e silêncios me transmitiram.

     

     

     

     

     

     

     

     

     
    Para além de toda a discografia editada, ouvi e presenciei três concertos do mestre. Na Esc. Secundária de Benfica (hoje José Gomes Ferreira), em Évora e no São Luís, entre 1989 e 1992. A grande lição de vida tive-a no da ESB.
    Uma produtora francesa gravava uma série de documentários sobre os grandes guitarristas do mundo. Solicitou ao Conselho Directivo (CD) a cedência do anfiteatro para captar imagens de Carlos Paredes em situação de concerto, juntamente com a presença de público, maioritariamente os alunos.
    O anfiteatro (Bloco C) é um amplo espaço com capacidade para 500 pessoas, concebido para servir de sala de espectáculos, sim, mas sobretudo com aplicação versátil uma vez que divide a escola ao meio, servindo como lugar de passagem e convívio e contendo em si mesmo a biblioteca, salas da Associação de país e estudantes e a secretaria e o próprio CD. As condições acústicas são tudo menos ideais para qualquer concerto.
    Foi-me solicitado, enquanto presidente da AE, que apoiasse a iniciativa, servindo de ponte entre os produtores e os alunos: eu sabia melhor que ninguém como gerir o Bloco C cheio de malta efusiva por ter duas horas de gazeta.

    O espaço encheu. No corredor superior, por cima das bancadas, foi montada a estrutura para o charriot e por todo o lado uma panóplia de pessoal atarefado colocava luzes e contra-luzes a rigor. Os alunos estavam naturalmente excitadíssimos.
    No palco duas cadeiras. Uma para Luísa Amaro, que já se encontrava no local a cuidar os pormenores. Mestre Paredes não e assim esperámos mais de uma hora. Acontece que Carlos Paredes vivia a cinco minutos da Escola, pelo que nos foi explicado que alguém da produção o tentava convencer a vir dar o concerto, uma vez que, como nada tinha sido combinado previamente, o Mestre hesitava em comparecer porque temia a reacção dos alunos. Quando finalmente entrou, uma explosão de alegria, gritos e palmas, enunciou que os receios, inspirados na timidez do Mestre, não tinham fundamento e que uma grande empatia existia imediatamente entre ele e os 500 alunos, professores e funcionários que enchiam o recinto. Embora, muito provavelmente, uma grande parte destes desconhecesse a sua obra. Não era o meu caso, porque conhecia alguma coisa por intermédio do Pedro Amaral.

    A grande lição de vida veio a seguir.
    A produção televisiva esqueceu-se de trazer material que amplificasse o som, tendo simplesmente trazido a necessária captação. Portanto, com as fracas condições acústicas, o recinto cheio e duas guitarras a soarem sem amplificação restava rezar para que um coro de assobiadelas e urros acabasse com a aventura. Mas não foi assim.
    Carlos Paredes dirigiu-se aos presentes e explicou, com o seu tom genuinamente humilde e a transbordar sinceridade, a situação. Disse que pedia encarecidamente que todos fizessem silêncio de modo a poderem ouvir o que ia tocar.
    É extraordinário que em nenhum momento duvidei que isso iria acontecer.
    Quando ecoaram os primeiros acordes de Verdes Anos recordo a potência da sonoridade, não em volume entenda-se e o rigoroso, único porque jamais alcançado naquele espaço e naquelas situações, silêncio que meio milhar de pessoas imediatamente fizeram. Um encantamento colectivo, virado para o centro do palco, onde as notas nos enchiam e arrepiavam, onde os nossos olhares se trocavam impressionados e emocionados e onde um estranho ruído de fundo marcava, por assim dizer, o ritmo, ou o contra ritmo, da obra e que mais tarde vim a reconhecer como a respiração do Mestre. No final do primeiro tema uma nova explosão do público anunciou uma hora e tal de profunda comunhão, entre um bando de adolescentes e Carlos Paredes. Por certo todos os que viram aquele concerto o passaram a ouvir regularmente e a admirar a sua obra.

     Hoje, como sempre, sinto a música de Paredes através das suas notas, dos seus e meus silêncios e especialmente através do som da sua respiração. Que nunca deixarei de ouvir.

    quinta-feira, julho 22, 2004

    Teggy

    Então, nesse caso, o pai e o avô também foram palhaços de circo.

    quarta-feira, julho 21, 2004

    Triste Figura

    Parte 1
    Lembro que por volta de 2000 comecei a comentar, junto dos amigos, que algo me preocupava e enunciava caminhos tortuosos para o futuro político da nação.
    Apesar de António Guterres ter alcançado a maior vitória legislativa do PS, ficando a uma unha negra da maioria absoluta, verifiquei que um vasto esquema de usurpação do poder tinha origem na comunicação social e objectivava denegrir, de forma aparentemente isenta e jornalística, a acção do segundo governo PS. Preparava-se a tomada de poder com uma estratégia, dita moderna, baseada no amplo controlo dos órgãos de comunicação social. Confrontava o ciclo próximo de amigos com o facto de existirem não só políticos comentadores, que sendo peças do xadrez político, construíam e manipulavam opinião como se fossem parte desinteressada da jogada, mas principalmente jornalistas (e editores e directores de jornal) que baralhavam o esquema do rigor jornalístico, alterando profundamente a democracia por via de um novo género de opinião publicada que invadia as redacções.
    Recordo, agora, que dava como exemplo máximo um senhor que ninguém conhecia, que escrevia uma crónica diária na segunda página do DN, que assinava como Editor e se chamava Luís Delgado. A minha rapaziada, habituada aos meus delírios criativos, aconselhava-me a ver filmes de conspiração, contrapondo como resposta a essa tomada de poder, por um lado, a minha loucura, por outro o meu fervoroso e cego socialismo.
    Procuravam isolar os meus receios com outros argumentos racionais como o aparente facto de ter sido sempre assim. Respondia que aceitava que pudessem sempre ter havido notícias manipuladas, mas nunca com aquela dimensão (em número e conteúdo) nem com a inclusão de uma nova estratégia que incluía os critérios editoriais na generalidade. Mais tarde disse e escrevi, aqui no Estado, que com Cavaco o povo saiu à rua e a comunicação social difundiu e com Guterres a comunicação social difundiu e o povo saiu à rua.
    Confesso, que passados quatro anos, sinto ambiguamente alívio e preocupação. Alívio porque é hoje consciência generalizada que os jornalistas não são de todo isentos, sendo inclusivamente imediatamente perceptível quem cacica e para que lado. (Consigo distinguir de cor dois que não imagino o lado: Raquel Alexandra e Carlos Magno). É também reconhecido que tal nunca teve esta dimensão, tanto no tratamento da peça ou artigo, como na vinculação da opinião. Preocupação porque, tenho-o repetido vezes sem conta, esse é dos mais alarmantes sintomas da doença democrática.
     
    Pronto já desabafei. Agora vamos rir um pouco. Duas palavras: Luís Delgado. Calma malta. Não são os gags. Parem de rir! Oh! Outra vez Luís Delg... Ainda não disse o resto. Uma, duas, três. Luís Delgado.
     
     
     
    Parte 2
    É o verdadeiro artista, especialista na difusão do banal senso comum, não acrescentando nada de substancial, apenas verbalizando os, agora já perceptíveis, sound bytes que alimentam as parangonas dos jornais. Nunca se lhe ouviu uma ideia específica e a sua criatividade assemelha-se à do outro Luís, o Pereira de Sousa, quando expande a técnica da força afirmando, por exemplo, "se eu fosse o responsável de comunicação do Governo" fazia, dizia e acontecia.
     
    Deixei, há alguns anos, de ler o DN por causa deste déspota, mas tive a felicidade de comprar a edição de ontem (uma viagem de negócios ao Porto precipitou a coincidência) e apanhei-o com a boca na botija do cúmulo da indefensável estupidez.
     
    Na página nove do referido jornal assina um artigo genericamente intitulado Linhas Direitas, que desde logo pressupõem escrita torta e especificamente Atitude Negativa. E começa o show de escatologia jornalística. Versa sobre a área em que o cretinóide se declara especialista, comunicação política e surpreende vindo de alguém que passou anos a dizer mal da actividade governativa. Dispara:
    "Uma das maiores e mais impressionantes barragens publicitárias políticas efectuadas nos EUA, para as presidenciais, e que começou nos últimos dias, aposta_ e os ?gurus? de campanha acreditam no seu efeito psicológico_ na contraposição entre o permanente discurso negativista do candidato democrata, John Kerry, e o apelo ao dinamismo e expectativa positiva lançado por Bush."
    Percebe-se que, dentro da sua lógica militante, queira insinuar um paralelismo entre a situação norte-americana e a portuguesa.
     
    Acontece que na mesma edição, página cinquenta e dois, um artigo, não assinado e intitulado "Diz-me onde pões o teu anúncio e eu digo-te quem vai votar em ti" começa de forma antagónica:
    "John Kerry está a derrotar W Bush no campeonato dos anúncios televisivos de campanha. Esta é a conclusão do primeiro estudo de semore da Nielsen, a principal empresa de medição de audiências dos EUA, com a colaboração da Universidade do Wisconsin, aos anúncios eleitorais." 
     
    Não seria mal pensado se estas empresas e universidades de meia-tigela recorressem a um consultor de elevada categoria como o Xô Luís, que contra-ataca:
    "Em teoria, garantem os especialistas, o eleitorado, qualquer que seja, particularmente aquele que está sujeito a grandes pressões na situação interna e externa, tenderá sempre a optar por um líder que lhe transmita confiança, fé no futuro e uma grande crença na evolução positiva dos acontecimentos, seja em termos económicos ou em matéria de segurança, política ou desenvolvimentos no Iraque ou Médio Oriente." 
     
    Porra! É isto. O princípio do eleitorado que é burro é "tudo ou molho e fé no Deus" católico, claro. Não venham com muitas especificações, que não adianta. O outro artigo:
    "O estudo abrangeu 93 mercados televisivos e, em 83 destes, a propaganda favorável ao candidato democrata suplantou a do Presidente em exercício. Isto aconteceu apesar de haverem mais anúncios republicanos que democratas. (...) Assim, "a campanha de Kerry e dos seus aliados está a chegar mais vezes aos eleitores que a do Presidente Bush", disse Ken Goldstein, o director do Winsconsin Advertising Project e coordenador deste estudo, realizado entre Março e Junho."

    Interessante ainda, para verificar esta verdadeira diálise jornalística, a perspectiva lançada na caixa que acompanha a notícia, intitulada "Campanhas à procura dos indecisos", onde o Sr. Goldstein é citado em declarações ao New York Times: "As eleições ganham-se nas margens do eleitorado e são diferenças marginais entre as campanhas que nos mostram diferentes estratégias entre aquelas." O final merece também alguma reflexão séria (uma pausa, xô Luís): "As campanhas de George W. Bush e John Kerry gastaram mais de 180 milhões de dólares (cerca de 150 milhões de Euros) até ao mês de Junho (...). Mas 60% dos americanos vive em regiões onde nenhum anúncio foi difundido."
     
    Na minha terra chama-se à sua actividade profissional, caro Sr. Luís Delgado, c*&#+ postas de pescada. Não é jornalismo, nem sequer opinião. 
      

     
    Parte 3
    Moral da história: Tivesse o estimado estadista ficado por aqui e, não tendo lido os respectivos artigos, teria sido também vítima de pura manipulação. É que no da página cinquenta e dois o desenvolvimento explica que o estudo se refere à colocação dos anúncios (intervalo de determinado tipo de programas/target a alcançar) e não propriamente à mensagem vinculada por cada uma das campanhas. Não obstante isso, também a vantagem de Kerry é reveladora de estratégia adequada e pode muito bem ter reflexos eleitorais. Por comprovar fica a tese do xô Luís, que à partida até poderia ter um princípio correcto, mas esbarra na prática comum de quem está na oposição fazer o discurso da tanga, enquanto o poder exibe os anéis. Aliás o seu artigo é concluído com o exemplo português. E eu pergunto: o que andou quatro anos (dois na oposição e dois no poder) a fazer o Zé Manel Trauliteiro?




    segunda-feira, julho 19, 2004

    Assuntos do Mar

    Voltou a boleca à portuguesa. Desenganem-se os que pensavam que prevaleceria o espírito do Euro. E não tardou mais que o primeiro jogo de uma equipa portuguesa. Em Nyon, Suiça, voltou o verdadeiro futebol português. Invasão de campo, caceteadas na carola, nova invasão de campo, batalha campal, pontapés na carola (olho por olho) até ao colapso, asneiradas, cuspidelas e bebedeiras violentas. Ainda por cima o provocador queria apoiar o árbitro, porque era da sua família. Só faltava mais esta. Daqui a nada os árbitros deixavam de ser os culpados disto tudo. Relembro as palavras de Bagão Félix ao Discurso Directo da SICN, onde dizia que ofendia os árbitros sempre que ia ao futebol. Haja alguém que salvaguarde os valores reais da nossa pátria.
     
    Quem duvidava das capacidades do novo primeiro-ministro teve a resposta que merecia. Santana nem esperou por sair do palácio de Belém (o que é óbvio, porque é daí que advém a legitimidade das suas bacoradas) para anunciar que se puder, repetiu só se puder (e aqui não se desmanchou), baixaria o IRS. Isto representaria uma quebra nas receitas do estado de cerca de1% do PIB. Que sa f*#+. Somos um bando de estúpidos, burros e otários, que não merecemos melhor.
     
    A cara de Paulo Portas quando foi anunciado ministro dos Assuntos do Mar criou divagação jornalística exagerada. O ministro teve simplesmente um raríssimo rasgo de masculinidade patriótica e lembrou-se dos tempos em que qualquer funcionário da presidência da República que cometesse a ousadia de se enganar seria imediatamente corrigido pelo Sr. Presidente do Conselho. Farto de estar de cócoras a levar com a potência bruta do estado de direito democrático costas acima, o ministro lá fez a retenção necessária para, aguenta e não chora, a explicação do ministgo Mogais Sagmento.
     
    Efectivamente as novas pastas têm nomes pomposos e complicados, de modo a desviar a atenção do core business de cada ministério.
    Podem facilmente verificar que o novo ministério não comporta as pescas, como inicialmente supus. Tão-somente a marinha. Por isso talvez não fosse descabido, nesta lógica de nomeação ministerial fascista (terá sido proposta do criativo Luís Delgado?), chamar ao novo ministro, Ministro de Estado, da Defesa, da Terra, Mar e Ar e do Hino Nacional brindado com a saudação Nazi.

    Foi por tudo isto que tive uma revelação. Ao contrário do que pensava descobri que nunca poderei ser primeiro-ministro. É que esta panóplia de criatividade deu-me uma das piores e mais descabidas ideias que alguém poderia ter. Criar o Ministério da Noite, Putas e dos Paneleiros Disfarçados em gente fina. Quem poderia ser ministro de tal ousadia?










    terça-feira, julho 13, 2004

    A Democracia que temos

    Instigados a votar, os cidadãos deparam-se com as suas escolhas preteridas e anuladas por um grupo de iluminados, que se denominam políticos e que nos tempos que correm vivem do exclusivo expediente de convencer jornalistas, editores e directores de jornal a darem-lhes visibilidade. Ao povo, a pouco e pouco, resta-lhe desistir. Vai deixando de ir às urnas, de ter opinião, de discutir, de apoiar, de criticar. Adormece e fica amorfo. Até perceber que vive em oligarquia, muito tempo depois do doloroso actual final do sistema democrático, tal como existe.

    1. Durão Barroso vê as suas propostas europeias serem amplamente derrotadas pelo povo português, em escrutínio. Sofre a maior derrota eleitoral de sempre da direita coligada. Um mês depois é escolhido pelos seus pares europeus, os chefes de governo também maioritariamente derrotados, para Presidente da Comissão Europeia.
    2. O PSD apresenta um programa de governo ao eleitorado em 2002. O CDS também. Formam governo juntos criando um terceiro programa de governo, nunca apresentado aos eleitores. Esse mesmo programa justifica a continuidade do governo, mesmo mudando o Primeiro-ministro e cerca de 70% dos ministros e secretários de estado.
    3. O Presidente considera que a mudança de 70% do aparelho governativo é um factor de estabilidade e continuidade imediata das políticas, que por sua vez são rejeitadas por grande parte dos observadores técnicos, parte da opinião pública e da imprensa estrangeira de qualidade.
    4. Os candidatos a deputado são, em grande parte, autarcas que exercem funções nas terras em que foram anteriormente eleitos. Se exercerem o poder, são substituídos na Assembleia da República pelos suplentes, se forem vereadores e afins, escolhem o cargo de deputado e são substituídos nas autarquias pelos suplentes. Muitos destes chegam ainda ao segundo lugar da hierarquia política: gestor público, apesar de se terem apresentado para o exercício do serviço público. O topo são os cargos de governante.
    5. Ninguém na Câmara Municipal do país com maior número de eleitores votou no actual Presidente, Carmona Rodrigues. Os cidadãos votaram no PSD em grande parte motivados pelo nome do cabeça de lista, Santana Lopes.
    6. Na mesma câmara os partidos da direita apresentaram-se separados. Hoje e depois da convergência nacional presume-se que o CDS apoie a actual gestão autárquica, permitindo assim ao PSD ter maioria, uma vez mais não conquistada nas urnas.
    7. O actual Primeiro-ministro nunca venceu qualquer eleição em congresso do PSD. Concorreu várias vezes e desistiu ou perdeu sempre. Por isso nunca foi candidato ao cargo que exerce. Já declarou que iria abandonar definitivamente a política e já anunciou que nunca mais seria candidato a Presidente do partido, depois das sucessivas derrotas.
    8. Senão a totalidade, uma grande parte dos eleitores que votaram em Jorge Sampaio, para Presidente de todos os portugueses, eram a favor da realização de eleições antecipadas.


    Admito que neste último ponto possa existir alguma controvérsia.
    Quando exigiu que o poder legislativo mudasse a lei que proibia os toiros de Barrancos, uma vez que o próprio Sampaio é um fervoroso aficionado, esqueceu-se de respeitar não só um princípio basilar do Estado de Direito, que não pode mudar de leis de cada vez que um indivíduo ou um grupo não as cumprem, como parte dos cidadãos deste país que se opõem às barbáries com animais, incluam ou não a exibição da morte. Tomou partido. E desta vez a situação é similar.
    Sabendo Sampaio que ao tomar o partido da direita estaria a contrariar a esquerda, deveria deixar os cidadãos decidirem. Só faltava argumentar, que na dúvida e na divisão, não deveria ser o soberano a decidir. E soberano é o povo. O único cujas decisões não são injustas, sejam quais forem.

    Que fazer perante este estado comatoso do actual regime? Desistir? Acho que não. Penso que o actual Estado só mudará dentro dos próprios partidos, os primeiros a terem de mudar funcionamentos. Como todas as revoluções também a revolução para uma melhor democracia terá de partir de dentro do sistema. Será esta uma boa altura para me tornar militante?

    segunda-feira, julho 12, 2004

    Está-se mesmo a ver

    Sampaio avisou que será vigilante e que mantém os poderes vários do presidente, entre os quais o da dissolução.
    Ninguém duvida, o que o povo põe em causa é a capacidade de Sampaio para os utilizar.

    Respeito integralmente a decisão de Sampaio, embora preferisse que tivesse optado pela outra via. Umas dicas do General ficam no ar: Para quê tudo isto? Para quê a convocação de sucessivas reuniões com os senadores da nação? O Conselho de Estado? Quinze dias de suspense para acabar com a decisão transitória?
    Para o General trata-se de uma grande vaidade que virou a atenção da opinião pública para Belém e culminou com uma comunicação a transbordar audiência. Se houvesse próxima vez, não haverá porque Sampaio esgotou a sua capacidade de intervenção no regime, recomendar-se-ia mais contenção e menos show off. E já agora mais coragem!

    sexta-feira, julho 09, 2004

    Meu Caro Ferro Rodrigues

    Escrevo-te estas palavras porque sinto finalmente que chegou a tua hora: a hora de Portugal!

    Quando, há cerca de três anos, assumiste de forma corajosa e dedicada o cargo de Secretário-Geral do PS, alguns pensaram, inclusive entre os teus pares (por isso te estenderam a passadeira), que serias um líder a prazo e que provavelmente não chegarias a candidato, quanto mais a Primeiro-ministro.
    Alguma comunicação social, que hoje o povo cheira à distância, vinculou essa ideia através, principalmente, de alguns comentadores que vêem o que lhes convém, como se tivessem palas.
    Por outro lado foste o mais perseguido, injuriado e injustiçado líder de um partido político desde o 25 de Abril. Viste um amigo e no. 2 da tua equipa envolvido no mais repugnante escândalo da moderna sociedade portuguesa, as tuas alegadas conversas pessoais escarrapachadas na imprensa tablóide, mais ou menos disfarçada e finalmente a perca de um companheiro e ilustre estadista que a todos, independentemente do quadrante político, comoveu.
    A este verdadeiro filme de terror respondeste com a força da tua personalidade e das tuas convicções, na busca de um Portugal mais justo, mais dinâmico e mais positivo. Poderás ter cometido vários erros (só há uma espécie de pessoas que nunca se engana) mas nunca caíste na pior das tentações: a de te vitimizares. Nunca te deixaste vencer pelas contrariedades, ao invés lutaste e venceste: como se a adversidade te desse ainda mais força.

    Na primeira campanha que protagonizaste, brilhante na forma, criativa e esteticamente correcta, conseguiste um honroso resultado que só a ti se deve e pelo qual o partido te estará eternamente grato, uma vez que ninguém conseguiria, ainda assim confrontado com toda a mensagem demagógica e hoje reconhecidamente para português ver do choque fiscal e afins.
    A segunda, menos conseguida do ponto de vista da forma, confusa, fraca graficamente e acima de tudo ruidosa na diversidade das mensagens, tocou, nos conteúdos, os pontos fracos da governação e os fortes da alternativa. Alcançaste a maior vitória de sempre do PS e a consequente maior derrota da direita unida.
    Internamente aliaste tendências duma maneira geral e na especificidade surgiram alguns focos de tensão, normais nos partidos democráticos, que deverás sempre procurar pacificar, como é missão do líder, sem olhar a afectos pessoais mas aos valores da razão e da consistência política. Sobretudo entregar as missões certas aos perfis adequados: revendo especialmente as matérias da comunicação externa, de modo a criar uma harmonia entre o que pretendes e o que dizem que pretendes.

    No mundo, na Europa e no país assistimos ao crescimento de duas formas de fazer política, aparentemente ambíguas, mas comuns no populismo demagógico. Por um lado aqueles senhores perfeitamente vestidos, com o cabelinho recortado a fingir o seu bom comportamento e com o moderno nó da gravata a anunciar o discurso fluído, sem uma ideia, um projecto ou uma solução, mas uma panóplia de trocadilhos a piscar o olho ao afortunado director jornalístico, nomeado pelo administrador saído do congresso dos empresários saudosistas de outros tempos.
    Por outro lado aqueles senhores em manga de camisa que gritam aos seus acólitos que saiam à rua, para partirem as montras das lojas ou denunciarem os moderados como colaboracionistas da direita, porque na verdade a preferem. Também frequentam os lugares da moda, bebem whisky velho e fumam charutos, mais para apoiar Cuba que por qualquer tique caviar. Também são amigos dos directores referidos.
    É a este conjunto de aspectos que o senso comum chama carisma, é com isto que serás confrontado nos próximos meses, os mais importantes do teu percurso político, mas não é disso que o país precisa.

    O país precisa de um chefe que tenha ideias e projectos claros. Alguém que consiga apresentar uma equipa de primeira linha para os concretizar, porque os suplentes por mais que se esforcem não chegam_ vimos isso nos últimos anos de governação.
    Um projecto que defenda o rigor das contas do Estado como princípio da actividade governativa, mas não como um fim obsessivo, fechado em si mesmo.
    Uma ideia clara para Portugal naquilo que são os aspectos mais importantes no comboio da modernidade: o ambiente, a cultura, a ciência e a educação, nos seus vários níveis.
    Um país que diminua a distância entre os desfavorecidos e os outros, em que os primeiros tenham acesso aos cuidados de saúde, aos bens de subsistência e à real igualdade de direitos e acima de tudo de oportunidades.

    É por tudo isto, meu caro Ferro Rodrigues, que acho que esta é a tua hora! Identificamo-nos contigo porque, tal como cada um de muitos de nós, também tu sofreste ao longo dos dois anos mais longos da história da democracia. Por isso sabemos que temos de dar a volta e por isso apostamos em ti para comandar a inversão deste Estado.
    Não nos desiludas, mãos à obra e bom trabalho!

    Força Ferro!
    Força PS!
    (E agora sim: com uma força que ninguém pode parar):
    Força Portugal!

    quarta-feira, julho 07, 2004

    Euro notas finais

    Parabéns
    Considerei antes do jogo da grande final que não era exigível que a nossa selecção vencesse a partida, uma vez que a presença neste jogo era já motivo de grande alegria e a maior conquista de uma equipa representante de Portugal.
    Agradeço aos nossos jogadores os momentos maravilhosos que vivi e felicito-os pela brilhante campanha realizada.

    O sabichão
    Afinal Scolari conseguiu terminar o Euro 2004 com 10 jogadores (a excepção é Luís Figo) titulares representados por Jorge Mendes, o amigo de Pinto da Costa e Reinaldo Teles. Chegou a Portugal com o discurso do "independente" (sempre achei esse o pior dos discursos) e fez dois anos de mentira, procurando ter os pilares (Couto, Figo e o Príncipe) do seu lado e na primeira oportunidade mandou os dois primeiros à fava, ou seja no intervalo do jogo no Dragão e no jogo logo a seguir. Quando tentou fazer o mesmo a Luís Figo (jogo com a Inglaterra) este teve a meritória atitude, que o povo odiou, mas que obrigou Scolari a repensar a sua táctica...
    Foi exactamente no momento da substituição de Rui Costa por Deco que a minha ira contra Scolari se agudizou, uma vez que crucificou alguns jogadores, esquecendo que os jogadores que erraram nessa partida foram exclusivamente Paulo Ferreira e Costinha. Manteve o "indiscutível" Pauleta sempre a titular e preteriu Simão por Cristiano, que é um erro que ele próprio assumiu no célebre discurso de Sir Fergusson e a panelinha. Ronaldo que era uma eficaz "arma secreta" enquanto suplente, passou a ser um jogador a menos, marcado consecutivamente de forma irrepreensível por Cole, Bronkorst e Seitairidis. (E atenção que prevejo que Cristiano será um dos melhores do Mundo, daqui a cinco, seis anos, em competição directa com Tébez, do Boca e Carlos Alberto, do FC Porto).
    Especialmente na final, mas também nos restantes jogos (com excepção da Holanda, onde foi um trinco eficaz, embora perdulário e ausente da construção atacante) ficou demonstrado que Deco não é o génio que Pinto da Costa nos quer vender. Ou por outra, vender a Laporta. Esta é a minha opinião independentemente do excelente resultado obtido, sobre o qual mais não se podia exigir, como já expliquei. Mas não me peçam que vá atrás do cacique generalizado, que visou uma clara estratégia de venda de jogadores, para os quais não existem compradores...

    Vejamos alguns exemplos.
    Quando Rui assumiu que faria o último jogo pela selecção a opinião publicada (com grande enfoque para a rapaziada do Correio da Manhã) considerou a destempo e o povo concordou. Quando Filipão anunciou que ficava casado com a selecção antes de disputar a final, toda a malta considerou o timming ideal...
    Quando perdemos no Dragão com a Grécia a culpa foi dos jogadores velhos e Simão. Não houve mérito do adversário. Quando perdemos na Luz, nenhum Deco, Cristiano ou Pauleta foram condenados. Nem mesmo Filipão. Houve mérito da Grécia.
    Agora já se conseguiram os objectivos da indústria: preterir Rui Costa, para vender Deco e assegurar que mesmo que as coisas não lhe corram bem em Barcelona, não terá rival na equipa de Portugal. Cuidado com Hugo Viana ou Tiago...
    Finalmente só faltava que a estúpida visão clubista que nos impôs "génios" e merdas similares, nos obrigasse a comer e calar, porque temos que estar unidos, como se isso fosse sinónimo de termos de pensar todos da mesma maneira. Aquele género: todos achamos que Ferro não será primeiro-ministro e todos temos de concordar? Outra vez, independentemente do melhor resultado alcançado.
    Três questões. Porque é que Filipão preferiu Juninho Pernambucano a Deco, há apenas dois anos atrás, apesar dos esforços do ilusionista para ser convocado pelo "seu" país? Porque é que mesmo sagrando-se campeão do mundo, foi afastado da "canarinha"? Quem concorda com a mais que evidente futura inclusão de Derlei na equipa?

    Meus amigos: por pensarmos diferente não significa que não estejamos unidos no apoio incondicional à nossa selecção. Vi todos os jogos que ganhámos em 2000, vi todos os de 2004 e se tiver possibilidades lá estarei na Alemanha. Com uma diferença. Não assobio nenhum jogador da equipa, como alguns fizeram a Rui Costa, no estádio da Luz (jogo com a Inglaterra). Não me peçam que aplauda todos da mesma maneira...

    E apesar de ter sido contra a contratação de Scolari e procurar manter alguma coerência, gostaria de referir os seus méritos, porque naturalmente também os tem! Não considero é que sejam aqueles que o seu próprio marketing veicula.
    Em primeiro lugar o B-A-BA do futebol, que convém relembrar, porque sendo óbvio, foi um dos grandes falhanços da presença no mundial 2002: o profissionalismo. Ao contrário, neste Europeu, Portugal apresentou-se na máxima força, em excelente condição física, sem castigos que afastassem os jogadores dos jogos (com a excepção de quem senão Pauleta?), nem lesões. A equipa foi globalmente disciplinada dentro do campo, não tendo visto nenhum cartão vermelho.
    Nos aspectos tácticos, apesar das críticas à escolha do onze e às substituições (algo que me parece consensual), Scolari retomou os dois trincos, única estratégia possível de acordo com as características próprias dos nossos jogadores.
    E pronto. Até à Alemanha 2006 (se formos qualificados, única hipótese publicamente sustentada, mas cuidado que isto não é a qualificação na América do Sul) teremos de levar com ele. Pois seja. Boa Sorte Portugal.

    Os heróis
    Dentro dos jogadores portugueses existem quatro heróis, dois antigos e dois novos, símbolos do refrescamento sustentado, que defendo: Rui Costa, Luís Figo, Ricardo Carvalho (verdadeiro craque) e Maniche (mão à palmatória).
    Figo suportou cacicados merdosos que tudo escreveram sobre ele e mais uns quantos do povinho, a quem as televisões davam diariamente antena. Que está velho, lento e tudo mais. No campo foi excelente, deslumbrante e a maior arma ofensiva da equipa, pegando-a ao colo nos momentos difíceis (normalmente quando estávamos em desvantagem) e nos outros.
    Ricardo Carvalho confirma-se como um grande defesa central, dos mais eficazes que vi jogar, talvez o melhor de sempre (ainda, repito ainda, abaixo de Mozer e salientando que nunca vi jogar Humberto Coelho).
    Maniche evoluiu extraordinariamente no FC Porto, sendo hoje um jogador de equipa, que corre de área a área. E ainda arranja pulmão para criar desequilíbrios nas alas em situação ofensiva.
    É um especialista na guarda de honra exímia que, juntamente com o trinco tradicional (no caso Costinha), faz ao play maker. Este aprumo táctico de José Mourinho (sucessor natural de Scolari no pós 2006) não só duplica as linhas de passe curto do no. 10 (que se pode virar para trás, não encontrando disponibilidade no extremo ou no ponta de lança) como permite pressão imediata no caso de perca de bola do referido 10. Esta situação melhora os níveis de confiança do colega com responsabilidade de condução... Pena que essa especial e apreciável característica não tenha aparecido na primeira parte do jogo inaugural...


    Rui Costa
    O meu preferido da geração de ouro, logo a seguir a JVP, mas muito mais apreciável no carácter dentro e fora de campo. Sai pela porta grande, mas desrespeitado e compreensivelmente ofendido. Quem diria que, depois das bacuradas de Oliveira em 2002 (que o deixou no banco, preferindo Conceição, embora toda a gente ache que por troca com um trinco ou JVP) lhe voltaria a acontecer uma vergonha destas?
    Mas o que fica de Rui Costa é a imagem dos seus passes, das suas fintas impressionantes, da sua visão de jogo e do seu ritmo, que ao contrário do que pensam os caciques, sempre foi pausado e incrivelmente respirado: foi aliás pela sua melhor característica, a de não desatar a correr em direcção ao nada, que foi acusado.
    Ficam os melhores golos ao serviço da Selecção: o penalti em 1991 (pela importância desportiva_ eu estava lá), o chapéu à Irlanda (apuramento para o Euro 96) e o estoiro à Suécia (preparação para 2004). Fica a determinação e comportamento de um homem simples e apaixonado pelo seu país: aquele que, disse uma vez, jamais o trocaria se não tivesse oportunidade de o representar. Nunca se pôs em bicos dos pés para marcar os livres e os cantos, embora os executasse de forma brilhante.
    Fica a imagem de um Euro 2004 brilhante, onde foi suplente, que entrou de forma espectacular e até decisiva, onde foi o melhor marcador da equipa (em igualdade com Maniche e Cristiano), obtendo um golo para juntar à lista anterior: jogo com a Inglaterra. Não quis sair do campo no final. Entendo. Mas deixa Rui. Vais voltar, com a camisola da tua segunda casa: O SLB. E rápido, que nós precisamos de voltar a ter o príncipe a espalhar o seu perfume.