terça-feira, setembro 30, 2003

Feed Back (12)

"Caros Amigos - fiquei mto. contente de vos ver na semana passada, num convívio social bastante heterogéneo, que contou com a presença, inclusivamente, de uma jovem rebenta a quem é impossível perguntar "quantos anos tens?", porque ainda mede a idade só em meses, etc.(...)"
CM (30-09-03, por e-mail)

"Meu miúdo,
Boa eleição do top 5. Mas olha que o 5º devia ser o 1º. De facto, não há decoro nem noção. Está aqui patente a superficialidade com que se agarram causas neste país. Aquela senhora não deve ter pensado 10 min sobre este problema. Sem palavras.
Beijos,"
OB (30-09-03, por e-mail)

"NOTÍCIA DO EXPRESSO ONLINE - li isto no expresso e fiquei um pouco baralhada: será que a Autoeuropa é uma instituição de solidariedade social q precisa de apoios do estado, discriminação dos cidadãos baseados na marca de automóveis que compram num mercado de consumo supostamente LIVRE, será que o ministério da economia é uma instituição pública ou uma delegação nacional da supostamente ilegal MAFIA? No comments, segue o lead em baixo.

"Brinde à Autoeuropa surpreende auto-estradas.
A DECISÃO do ministro da Economia, Carlos Tavares, de conceder portagens mais baixas, em 2004, aos modelos produzidos pela Autoeuropa apanhou de surpresa os concessionários de pontes e auto-estradas. O anúncio de Carlos Tavares responde a uma reivindicação antiga do grupo Volkswagen relativamente aos modelos VW Sharan, Ford Galaxy e Seat Alhambra e foi feito quarta-feira, na despedida de Gerd Heuss, em vésperas de uma reunião do grupo alemão em que foi discutida o futuro da fábrica de Palmela."
CM (28-09-03, por e-mail)

segunda-feira, setembro 29, 2003

Top Five da Negação (semana 22 a 28-09-03)

5º- Durante a Marcha Branca um jornalista da televisão pergunta a uma criança porque é que estava ali. A mãe apressa-se a gritar "Vá responde ao Sr. Para ajudar os OUTROS meninos." Já não há decoro em nada.

4º- O acesso e a entrada para o concerto dos Stones foi uma verdadeira confusão. Não se cuidem, não. Vivam as Câmaras que prometeram mudar e só pioraram. Uma sugestão: os WC deveriam ser mais acessíveis porque assim muito pessoal evacua onde pode...

3º- As chamuças na Bélgica, é sabido, são de má qualidade, mas tanto também chateia. Finalmente o Presidente Vilarinho lá apareceu a opinar sobre os jogadores do Benfas, no único acto interventivo da sua gestão. Vamos ter muitas saudades deste período e muitas memórias dos resultados, desportivos e financeiros, alcançados.

2º- Paulinho Portas ao rubro! Quando ele disse que naquele formato estavam todos no mesmo plano, quis dizer que ele era o único artista na arena. Quando disse, naquele tom sério e verdadeiro, que o Senado do Partido é um órgão da maior importância, quis dizer "Adeus velhotes, reformem-se!". Quando nenhum ex-presidente do partido foi evocado, no meio de tantas celebrações passadas, espera-se que (quando todos soubermos, o que sabemos, que eles sabem, que sabemos) também ele vá directo para o livro negro das memórias do CDS.

1º- A crise é uma merda! A crise não interessa a ninguém. Tira-nos a felicidade, o dinheiro e a esperança. A crise existe e nós pagamos sempre mais e mais e mais e mais. A crise dá cabo de um gajo, por mais esteja muito habituado... A crise custa e dói e cria vontade de levantar o pré aviso de greve e fazê-la mesmo. Estou de greve à nacionalidade! A crise é uma merda.






Comentários para: hbproducoes@netcabo.pt

quinta-feira, setembro 25, 2003

Viva o Rei!

Eu vi, com estes dois que a terra há-de comer, que o Nuno da Câmara Pereira afirma ser o legítimo descendente do Trono de Portugal. Foi durante a emissão de anteontem do Jornal Nacional da TVI. Bem ver, ver, não vi, porque só apanhei a chamada de atenção, o separador que indicia as notícias mais importantes a seguir. De qualquer forma, mesmo sem conhecimento nenhum de causa, julgo ser da máxima importância para este país pronunciar-me sobre este evento que poderia ser tirado do anedotário nacional, mas não é. Quero acreditar que é verdade, que Nuno da Câmara Pereira é mesmo o El Rei aqui.

Lembro-me como conheci Sua Majestade Dom Nuno como se fosse ontem, num dia (noite) meio nebuloso, em que sentia a cabeça a querer rir por tudo e por nada. Foi no Xafarix. Preferia ter preservado essa amizade. Se soubesse o que sei hoje, não teria solicitado a sua cunha para a entrada numa espécie de confraria discreta que tenta imitar a verdadeira... Isso originou uma panóplia de queixas de El Rei à instituição, sempre que eu votava contra Sua Excelência, o que era sempre e só para chatear. Hoje proporia até que se acabassem os votos e que Dom Nuno de Portugal levasse sempre a sua avante. Ele expôs ao equivalente ao procurador geral lá do tasco que o pessoal o desrespeitava, inclusivamente indo à casa de banho e não puxando o autoclismo, num documento sobre outro dos confrades que não ia à bola com ele. Soubesse eu o que sei hoje, ou seja, que Nuno da Câmara Pereira é o legítimo herdeiro do trono e esses anos da minha vida tinham sido diferentes, até porque me opus a que ele fosse candidato a chefe máximo e hoje acho que o cargo é dele por inerência.

Imagino como seria este Estado, chefiado por Rei Nuno. Primeiro a sucessão estaria garantida, uma vez que Príncipe Amarac dos Algarves, daria um óptimo pretendente. O primeiro ministro era o Fernando Seara, porque eu sei que essa seria a vontade aqui Del Rei, porque foi ao programa do Herman acusar a Câmara da Edite de corrupção e apareceu todo feliz (por coincidência) na sede de Seara, no dia da vitória. O Benfica passava a ser campeão, por decreto do PM. Os ministros da Defesa e Juventude seriam seus irmãos Gonçalo e Mico (respectivamente) uma vez que há áreas estratégicas que convém ficarem sob alçada da família. O Herman, por altos serviços anteriormente prestados e citados, seria o Ministro da Cultura. Seria igualmente estabelecido que todos os fadistas lançariam, alternadamente com os de fado, um disco de música latina, ideia lançada pelo próprio Rei para demonstrar os seus dotes de dançarino (teledisco) e de poliglota. Seria espectacular ver o Rodrigo interpretar o "La Bomba" e a Mísia o "La Bamba".
Dom Duarte Pio seria exilado com toda a sua família, bem como os ex. presidentes da República e eventuais, excepto o Prof. Cavaco por ser um homem que, tal como Dr. Salazar, fez muito bem ao povo e era sério. Escusado será dizer que El Rei comandaria todas as associações de âmbitos diversos a que pertence.

Sua Majestade habitaria no Palácio Nacional de Queluz, onde proporcionaria altas festas com comes, bebes ou és enforcado. Nos ágapes eram servidos fados, chouriços assados, vinho verde e respectivas. A pena capital seria imposta para todos os crimes de média gravidade para cima. Os pequenos delitos dariam acesso a prisão perpétua e assim acabava-se a criminalidade. O Rei nomeava o governo e não haveria eleições, sob nenhuma circunstância.
Algumas obras emblemáticas do anterior regime, mudariam de nome. O Rossio passava a ser a Praça João Moura, a Ponte 25 de Abril tornava-se na Ponte Frei Hermano da Câmara e o Oceanário chamar-se-ia Aquário Alexandre Yokochi. O Parque das Nações no Parque V Império, o Parque Eduardo VII no Parque Lili Condessa de Caneças. Seriam proibidas as estações privadas e do estado, exceptuando a TVI. Novos comentadores seriam colocados: Domingo: Zé da Câmara, Terça-feira: João Braga e Sexta-feira: Paula Bobone. Os temas dos talk shows seriam obrigatoriamente sangue azul versus sangues de outras tonalidades, touradas de morte versus touradas à portuguesa e marialvas versus bêbados com títulos nobiliárquicos.

O Hino Nacional passava a ser o "Cavalo Russo" e a bandeira ostentaria a foto do Rei. Essa imagem seria utilizada nas capas dos discos de Sua Alteza. Seria obrigatório comprar o Seu repertório inteirinho e dava-se um fenómeno curioso: o povo passaria a adorar aqueles fadunchos e aquele jeito tão especial de interpretar. "Meu querido, meu velho, meu amigo" e a versão do "Fado do ladrão enamorado" seriam eternamente número um e dois do Top. Rui Veloso seria preso por deturpar a versão tão bonita e maravilhosa da sua própria música.
Hereges como eu seriam decapitados em pleno Terreiro do Paço e as escolas teriam uma disciplina nova na qual se decoravam os reis, os rios e as rimas: Monarquia. A tabuada era ensinada à reguada.
O Luís Delgado continuaria a ser o cronista mais lido, por respeito ao princípio da imparcialidade que o caracteriza. Eram erguidas estátuas a homens como este, que servem o país em vez de se servirem dele, para interesses próprios. Finalmente Portugal abandonava a EU e voltava a circular o saudoso escudo, numa versão mais moderna e bilingue: o escudo e the shield. Orgulhosamente só, o nosso país, reconquistaria o seu verdadeiro espírito e alma.






No fundo, de início, não se mudava muita coisa para não chocar o povo.

quarta-feira, setembro 24, 2003

Feed Back (11)

"Caro amigo,
Definitivamente O Estado Negação está avançado de mais para a sua época. Então não é que os rapazes da maioria andam a discutir no fim de Setembro aquilo de que nós falámos em 22 de Agosto!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
" Santana responde a Pacheco
O presidente da Câmara de Lisboa, Santana Lopes, classificou ontem como «sinónimo de ignorância» as críticas _ como as do seu colega do PSD, Pacheco Pereira _ aos cartazes de auto propaganda afixados recentemente pela autarquia.
Sem nunca referir o nome de Pacheco Pereira, o também número dois do PSD defendeu que as despesas gastas em marketing são «um investimento» e uma forma de «explicar aos utentes o que é que a câmara anda a fazer».
No passado domingo, na sua estreia como comentador da SIC, o eurodeputado do PSD Pacheco Pereira criticou o cartaz que recorda aos munícipes que a câmara reparou o pavimento de uma rua em Lisboa. «É como se as empregadas de limpeza da câmara deixassem bilhetes nos gabinetes dos vereadores: 'já reparou como o seu gabinete está limpo?', ironizou Pacheco Pereira.
Ontem, quando falava na Assembleia Municipal, durante a apresentação do balanço dos últimos três meses de mandato, Santana Lopes aludiu às críticas, defendendo a importância dos outdoors da autarquia. Garantiu ainda que o custo destas operações de marketing «nunca passam de 1,5% do valor das obras».
«Talvez esta seja uma maneira de trabalhar que não é consensual. É evidente que quem não faz obra não pode pôr cartazes. Há os que gostam de chamar a atenção e há os que não gostam, eu admito que gosto», referiu o autarca e agora comentador do jornal da noite da SIC.
A «guerra» não declarada entre os novos dois comentadores políticos na estação de Carnaxide não passou despercebida à oposição. «Termos o presidente da câmara a comentar outros comentadores televisivos é no mínimo original. Estamos um pouco confusos ao vê-lo a criticar o seu colega de partido porque não sabemos se quem está a falar é o presidente, o comentador ou o vice-presidente do PSD», ironizou o deputado municipal Miguel Coelho (PS)."
DN 24/09/2003 Página 13

P.S. 1 - De acordo com o afirmado por PSL, os tais cartazes terão custado no máximo 1.500,00? para a empreitada da R. Alexandre Herculano e 1.845,00? para a R.Brancaamp. Afinal o que é que são 3.345,00? ?
P.S. 2 - Já agora deixo-te as novas mensagens dos já tão famosos placardes.
ALFAMA - Já reparou como ficou bonita sem carros? Vá lá. Não deixe de visitá-la.
BAIRRO ALTO - Já reparou como ficou bonito sem carros? Vá lá. Não deixe de visitá-lo."
LP (24-09-03, por e-mail)


"Caro JP
Parabéns pela brilhante compressão que conseguiu fazer do artigo de Manuel Carvalho ( no jornal Público de 10/09/2003 ). Resumir o artigo em causa, à parte inicial, em que são descritas as consequências nefastas para as economias dos países subdesenvolvidos, parece ser um exercício de justificação.......
Apesar de também eu me preocupar com o mundo, um outro excerto do mesmo texto que abaixo reproduzo, pode ( na minha modesta opinião ) justificar em parte o apoio que alguns governos dos países "ricos" concedem aos seus CIDADÃOS.

"(...) O FMI calculou que a completa liberalização dos mercados agrícolas provocará anualmente um ganho na ordem dos 100 mil milhões de Euros. Três quartos dos lucros ficariam para os agricultores mais competitivos dos países industrializados, mas os custos sociais seriam devastadores: a poderosa indústria do açúcar europeia desapareceria, os barões do algodão do Texas não conseguiriam competir, metade dos produtores de arroz do Japão teria de mudar de vida. Fred Kirchenmann, professor de sociologia rural da Universidade do Iowa, não tem dúvidas: "Sem subsídios, o sistema vai à falência. (...)"

E para acabar Sr. J.P. deixo-lhe uma pergunta. Quantos dias esperava antes de se manifestar se os preços dos produtos agrícolas aumentassem por via da redução ou da abolição dos subsídios à agricultura?"
LP (21-09-03, por msn)

segunda-feira, setembro 22, 2003

Top Five da Negação (semana 15 a 21-09-03)

TOP

5º- O "24 horas" tem, nos últimos tempos, ganho protagonismo, imagine-se, junto dos seus pares órgãos de comunicação, em especial na televisão. Não raras vezes as suas notícias são referenciadas como ponto de partida para peças televisivas e afins, especialmente no denominado caso Casa Pia. São os sinais dos tempos, onde as relações empresariais parecem mandar nos critérios editoriais.
Desfolhei casualmente a edição de Sábado (20-09) e encontrei uma pérola: na página 40 uma grelha de popularidade estabelece a simpatia dos concorrentes do Big Brother (obviamente que não é referida nenhuma ficha técnica). Em quarto lugar está a porca com 5,83%. Os sete posteriores devem cuidar a sua participação, evitando comer bolotas em demasia e roncar desafogadamente.

4º- A malta acha piada ao Presidente da CM de Sintra, Fernando Seara. Ele é o Santana 2, tal a quantidade de eventos sociais, férias e casas bem decoradas que enchem esta e aquela revista cor de rosa tingida de laranja. É um bem disposto e assemelha-se ao típico do bom comentador português para o Séc. XXI: só diz banalidades. É mais um rei do senso comum. Será que o tabu à volta da sua candidatura a Presidente (ou outro cargo qualquer, porque na realidade o tabu serve, provavelmente, para conquistar a SAD ou a AG) do Benfica tem alguma dignidade? O que acharia um votante no Senhor, do Concelho de Sintra, se houvesse um só pensante? Na volta sorriria e acharia graça. Pensaria: "Votei bem. O gajo é tão bom que até vai para o Benfica". E já agora... Obra. Algum projecto, ideia ou actividade marcante?

3º- Esta aconteceu a 13-09. Esperava-se que inundasse a semana consequente com os títulos e os artigos de opinião em todos os órgãos e por aí fora. Foi o acto mais importante do, considerado por toda a opinião publicada de direita, verdadeiro líder da oposição. Ah desculpem se não perceberam. O Francisco Louçã já reentrou na actividade política. Alguém notou? Onde está o Bloco? Se o virem avisem-me porque eu só soube pelos artigos dos suspeitos do costume.

2º- O Benfica perdeu outra vez. Nada nos vale. Nunca ganhamos, quer joguemos bem, quer joguemos mal, quer tenhamos sorte, quer tenhamos azar. Pronto, somos o bobo da festa e já estamos a oito pontos (um jogo a menos) do Porto. Será que, nos últimos anos, tivemos um arranque tão mau na primeira liga? Não será exagerada a diferença pontual, disputados quatro jogos? Valha-nos o povo a aclamar o Sr. Vieira, senão não sei onde isto ia parar. É obvio que não está tudo perdido: confio que afastaremos essa equipa de prestígio e que nunca foi eliminada de uma competição europeia: o La Louvière. Venha uma vitória "importante" para desanuviar o ambiente.

1º- As reacções de todos os quadrantes políticos, ao discurso de Paulo Portas, vieram mostrar um aspecto delicioso, que mais uma vez a opinião cacicada publicada e quase toda de direita, não falou: afinal Ferro Rodrigues tinha razão. Afinal o Secretário Geral do PS foi o único que conseguiu antecipar algo que parecia estar adormecido: o radicalismo e a importância desmesurada do companheiro de Durão. Quando Ferro discursou no Algarve, todos os comentadores se apressaram a ridicularizar e desvalorizar a toada que lançou. Nem um mês volvido e lá vem a panóplia ex. MRPP & CIA. a credibilizar FR. É caso para dizer: obrigado Paulo Portas. Não só lixas o eleitorado ao centro, como comprovas a visão do líder da oposição.



NÃO VI, MAS OUVI

a) Relataram-me episódios de criminalidade no Algarve, de extrema gravidade. Casos de violação a estrangeiras (uma rapariga de 13 anos e uma múltipla violação a uma senhora de 43, perpetrada por três indivíduos que recorreram a uma droga analgésica para consumar o crime) e roubos a eito (aliás em Albufeira ainda continua activo o já famoso Homem-Aranha, que recorre à técnica de escalada para se infiltrar em apartamentos). Disseram-me que as autoridades policiais e jurídicas actuaram com celeridade e competência. Daqui provém a necessidade de uma actuação política: não sei se a criminalidade violenta está ou não a aumentar (mesmo que disponíveis esses dados são sempre complicados de analisar, uma vez que, como se sabe, entre as vítimas existe frequentemente um "pacto de silêncio"), mas convinha que se apertasse na prevenção, nomeadamente no reforço de meios para as polícias de investigação, que permita um controlo imediato e eficaz dos eventuais prevaricadores. É que, bem entendido, já perdemos o Algarve de qualidade que poderíamos ter tido, mas já agora ficávamos com o que temos, descaracterizado, mas ainda atractivo para determinadas faixas do mercado turístico europeu.

b) Um técnico de televisão contou-me, por volta de 1998, que anos antes participara num programa da RTP, no qual o entrevistado era um jovem prostituto do Parque Eduardo VII. Disse-me que o jovem confidenciou que "não-sei-quem" era frequentador assíduo dos seus serviços e que tinha, inclusivamente, uma tara por lhe cheirar as meias sujas. Essa parte da entrevista, foi-me explicado, foi retirada da edição final por mencionar o nome de uma figura, quando o que se pretendia era o exemplo geral e não concreto. Será que "não-sei-quem" é o mesmo a quem José António Saraiva dedica o seu "Política à Portuguesa", na edição do "Expresso" de Sábado (20-09)? Andam doidinhos para o agarrar e eu vou-me fartar de rir...

c) Consta (confesso que não pude ver e prometo nunca o fazer) que Pacheco Bloguista, na qualidade de comentador da SIC, exibiu e comentou os cartazes de Santana a anunciar pavimentação. Parece que até sugeriu que a empregada da limpeza deixasse um cartaz a Santana, depois de lhe limpar o escritório (única coisa possível de arrumar naquela personagem). Isto é do melhor. O pessoal laranja anda todo espicaçado para ver quem vai disputar Belém com António Guterres. Matam-se e esfolam-se, mas não se aleijam. Mas porque será que Pacheco Bloguista teve esta ideia? De onde é que ela surgiu, assim nesta forma, com estes exemplos? Segundo fonte que nunca se cruzou com o referido berbe (termo contrário a imberbe), a redacção do Estado suspeita de cópia de um artigo aqui publicado em 22-08-03, por LP. Basta clicar em "archives" e procurar "Feed Back (5)".



PARA FECHAR

Casa Pia. Tudo pensado, tudo escrito, tudo dito. Tudo? Acho que não.
É inacreditável ver Adelino Granja e Pedro Namora defenderem a ideia que a instituição não está em causa. Que o governo nomeie uma provedora e uma comissão para tomarem conta da situação (de forma até digna diga-se).
Vamos brincar aos estados civilizados? Vamos. Em qualquer país do mundo civilizado, a dita entraria em funções com um único objectivo: FECHAR A CASA PIA.
Esta é a única saída para uma instituição que falhou em toda a sua linha de actuação. Em vez de proteger, de cuidar e mimar crianças com diversos e profundos problemas, a Casa Pia serviu de antro para os maus tratos e as torturas que se conhecem. Em vez de preparar os seus alunos para uma vida integrada e atenuar a destabilização provocada por acontecimentos traumatizantes vividos, não. A Casa Pia aprofundou traumas e prejudicou uma grande parte das suas meninas e meninos.

É óbvio que este cenário não poderá ser executado no imediato. Primeiro tem de se avaliar o perfil dos alunos, as teorias de educação (as existentes serão completamente descabidas) que melhor sirvam uma instituição com aqueles objectivos, reformular o corpo docente e auxiliar, fazer o levantamento dos bens imobiliários e a sua nova concepção e distribuição (porque não vender o património riquíssimo e construir de raiz um novo e adequado espaço/ou espaços?), mudar o nome e assim enterrar definitivamente o ónus "Casa Piano". Aqui está parte do problema. Dizia-me um jogador dos juniores do Casa Pia Atlético Clube que quando se deslocam a outros campos o público passa o tempo inteiro a gozar e ofender a equipa, com alusões a todo o processo (eles não são, na sua maioria, "casa pianos" e mesmo que fossem seria pior). Naturalmente que não se pode confundir esta brutalidade sobre a brutalidade com o todo, mas sinto que a realidade do país é assim. Goza-se e ofende-se a partir de tudo e de nada, sem excepção.

Vai ser mais um daqueles exemplos em que fica a tradição de 223 anos a valer mais que a missão, que os alunos, que os cidadãos (crianças) deste país. Comemore-se o aniversário, fortaleça-se o espírito dos orgulhosos ex. alunos e o futuro daquelas meninas e meninos que vá para as couves. Descabida, desactualizada e prejudicadora lá vai continuar a velha Casa Pia em nome do nosso conforto próprio, porque defender a mudança e o encerramento é coisa dos malucos. Ninguém até hoje pensou este cenário. Nem os políticos de todos os quadrantes. Porquê?

sexta-feira, setembro 19, 2003

Inauguração

Lisboa, 2004

Antes:
09:00h- 50 Bandas Filarmónicas de todo o país, actuam em diversos pontos estratégicos da cidade (Rua Augusta, Metro do Marquês do Pombal, Largo do Chiado, Estação do Rossio, etc.) devidamente identificadas por uma faixa: "Benfica Glorioso".
13:00h- O Presidente do Benfica presta sentida homenagem a atletas do clube desaparecidos, descerrando um mural evocativo com os seus nomes, rodeado por todos os atletas das camadas jovens de todas as modalidades do clube. Responde às perguntas dos jornalistas.
13:15h- O capitão do Benfica lê, em conferência de imprensa no hotel do estágio, os breves telegramas de altas individualidades do mundo do desporto: Pelé, Maradona, Presidente da FIFA e Presidente da UEFA e estabelece contacto via videofone com Rui Costa, em Milão.
17:00h- Vários mimos de rua estrangeiros (10), actuam nas imediações do estádio.
17:30h- Uma orquestra sinfónica colocada numa bancada mesmo em frente à entrada, toca a Symphony No. 1 in C minor, Op. 68 de Joahannes Brams, seguido da Symphonie No. 8 F-Dur, Op. 93 (duração aproximada: 60'). O som é ampliado para toda a área circundante e interior.
18:00h- Abertura das portas, com entrega de uma rosa a todas as senhoras.
18:30h- No som ampliado do estádio ouve-se música erudita de fundo.
19:00h- No som ampliado ouve-se o relato antigo de um golo do Benfica, efusivamente comemorado pelo relatador. A partir daí a música é seleccionada por um DJ, especialista em animação. Os ecrãs gigantes mostram um relógio com a contagem decrescente até ao início da festa (2 horas). Durante este período ninguém fala ao microfone.
20:00h- É transmitida a emissão do Jornal da estação de televisão que cobrirá o evento (durante a abertura dedicada à inauguração, aproximadamente 15').

A Festa:
21:00h- Black out. Depois quatro folow spots criam um círculo de luz no centro do relvado. Som e vídeo: nada. Eusébio sozinho e equipado a rigor, dá toques na bola durante meio minuto. Chuta muito forte, de modo a que a bola faça um balão no sentido de uma baliza. Black out. Folow spots criam novo círculo de luz junto a uma baliza, onde está uma criança. Depois recebe uma bola proveniente da penumbra. Sem deixar cair, pára no peito e remata para a baliza.
21:01h- O fogo preso na zona que limita as bancadas dispara. Acendem-se as luzes que iluminam fortemente só a área do relvado. Entram 150 crianças e brincam com bolas de futebol de vários feitios e tamanhos (bolas de praia, de meia, profissionais, de borracha, etc.). Num palco colocado junto a uma das balizas a Orquestra toca excerto de: "Also sprach Zarathustra" de Richard Strauss (o som é evidentemente ampliado). Nos ecrãs é projectado um clip com imagens aceleradas do estádio antigo, depois várias fazes da demolição, depois início da construção, depois várias fases da construção até à conclusão.
21:02h- As crianças lançam todas as bolas para o público e saem. Black out.
21:02h- (Entra um majestoso coro que se coloca junto à orquestra). Nova explosão de fogo preso. A orquestra e o coro interpretam excerto de: Carmina Burana de Carl Orff. Cadenciadamente começam a entrar 500 figurantes que desempenham uma coreografia, divididos inicialmente em grupos de 25, depois 50. A seguir 5 grupos de 100 representam alegorias dançadas aos vários desportos do Clube, utilizando para tal motivos criativos inspirados nas coreografias chinesas e etc. Nos ecrãs um vídeo apelativo relembra os momentos de glória do clube: erguer de taças, golos de futebol, cestos, golos de hóquei, etc.
21:05h- Fade out. Só a orquestra e o coro ficam semi iluminados e círculo de luz no centro, onde está Carlos Guilherme. Canta uma versão (mais lenta) de "Ser Benfiquista". Nos ecrãs, um clip começa com a legenda: "In Memorium". É uma edição cuidada de atletas, treinadores e dirigentes já falecidos com respectiva legenda dos nomes e datas de nascimento e falecimento. No final, um par de jovens atletas coloca uma coroa de flores junto a uma bandeira do Benfica erguida por trás de uma baliza.
21:08h- Voz off: "Sras. e Srs. o Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Dr. (...)". O Presidente do Benfica diz umas curtas palavras de gratidão a todos (incluindo adeptos) que ajudaram a construir um século de Benfica. Nos ecrãs, imagens dos adeptos que assistem à cerimónia. No final chama o maior atleta do Benfica de todos os tempos Eusébio da Silva Ferreira e entrega-lhe a medalha de ouro do Benfica. Depois explica que o presente estádio não esquecerá os jogadores da história do clube e avança para a linha lateral onde acciona um dispositivo, acompanhado pela imagem difusora.
21:11h- Black out. Nos ecrãs, um clip (todos os próximos serão de 15") de Manuel Galrinho Bento, que entra iluminado por um folow spot. Uma camisola sua, em tamanho grande e com o número 1, é iluminada e erguida para o alto da cobertura do estádio. Seguem-se clips e entradas de: 2- Veloso, 3- Humberto Coelho, 4- Vicente, 5- Toni, 6- Coluna, 7- Néne, 8- Fernando Chalana, 9- Rui Águas (em representação de José Águas), 10- Eusébio, 11- José Augusto, 12- Costa Pereira, 13- Mozer, 14- Jaime Graça, 15- João Vieira Pinto (sem a presença, mas só para embaraçar a lagartagem), 16- Simões, 17- Vítor Paneira, 18- Diamantino, 19- Stromberg, 20- Michel P'reud Homme e 21- (Filho de) Vítor Batista.
21:20h- Black out. Depois excerto de "Fight for your Right (to party)", versão dos N.Y.C.C. Outros 500 figurantes entram e fazem nova coreografia. Luzes: tudo vermelho. 5 trazem bolas gigantes que representam o mundo e lançam-nas para o público. Nos ecrãs, um clip com imagens de golos do Benfica.
21:22h- Excerto de "We are the champion's" tocado pela orquestra e cantado por anónimo. Todos os figurantes estão imóveis, em estátua. 2 crianças entram com uma taça dos campeões europeus gigante (insuflável) cada uma e dirigem-se à outra extremidade. Lançam-nas para o público. 27 crianças entram com as taças (insufláveis, mais pequenas) correspondentes aos campeonatos e 23 com as de Portugal. Todos lançam as taças para o público.
21:3Oh- Black out. Um paralelepípedo (3mx10mx3m) avança iluminado para o centro do terreno. Nova explosão e luzes on. Abre-se e lá dentro está a equipa do Benfica que sai, saudando o público presente. Começam os exercícios de aquecimento. Entra a equipa do resto do mundo. Não há qualquer comunicação (voz ou música) durante este período, para que o público se possa manifestar. É retirado o palco da orquestra.
21:40h- Enquanto as equipas se retiram, as luzes são reduzidas e são projectadas mensagens de figuras relevantes, alternadas com anónimos castiços: Presidente da República, Presidente da Assembleia da República, Primeiro Ministro (é fundamental que se evite uma vaia descomunal), Manuel Alegre, Xanana Gusmão e Presidente da FPF.
21.44h- Entram os 1000 figurantes com uma coreografia muito mexida e apelativa para que o público dance. (Um remix das músicas mais populares do momento). Fogo, andores e etc. complementam o momento. Final com fogo de artifício.
21:49h- Black out. Folow spots iluminam a entrada um a um dos jogadores. Benfica: Moreira, Miguel, Hélder, Luisão e Ricardo Rocha; Petit e Tiago; Giovanni, Mantorras e Simão e Nuno Gomes. Resto do Mundo: Khan, Thuram, Nesta, Ferdinand e Roberto Carlos; Veron; Beckham, Overmars e Zidane e Ronaldo e Van Nistelrooy.
21:57h: Mariza canta o hino nacional Português (acompanhamento em play back).
22:00h- Jogo Benfica/Resto do Mundo.
22:47h- Ao intervalo: apresentação dos novos reforços do Benfica: Steve Mc Manaman e Juan Pablo Sorín.
23:00h- 2ª Parte.

No Final:
24:00h- Entrega de um diploma a cada um dos espectadores. Frase: "Diploma. Certifica-se que (espaço) esteve presente na inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Data e assinatura do Presidente do Clube. (Espaço delineado para colar o bilhete)". Junto entrega de calendário dos jogos, convidando os adeptos a estarem presentes nos jogos em casa.

quinta-feira, setembro 18, 2003

Estado Líquido

Ao escrever conjuntos de duas palavras que sejam os mais pesquisados em Português...




Virgindade Tatiana, virgindade Raquel, porcos porca, casa famosa, ponte IC19, incêndios Agosto, incêndios Setembro, Portas LePen, neurónios Pacheco, menos escolas, menos investimento, menos emprego, menos qualidade, mais desigualdade, mais depressão, desgovernação activa, emprego procura, apoio guerra, apoio Bush, Santana cartazes, comentador político, morte estradas, financiamento partidário, corrupção passiva, corrupção activa, telelixo show, crítica lixo, signos zodíaco, rede pedófila, segredo justiça, arguidos culpados, arguidos inocentes, vitimas esquecidas, vitimas desprotegidas, Benfica perde, Porto ganha, saber perder, saber ganhar, substituições Camacho, Mourinho arrogante, porrada estádios, claques futebol, Euro 2004, touros morte, tortura animal, sadismo animal, Cavaco Presidente.




... faço um retrato muito deprimente deste país.

quarta-feira, setembro 17, 2003

Feed Back (10)

"It's incredible how the memories of ones friend are a part of ones own memories.
Devo dizer-te que ler estes textos das tua memórias fizeram com que recordasse com um sorriso muitos episódios dessa fase da minha vida. Não para de surpreender-me olhar para o calendário e ver que passaram 10 anos, 10 anos no meio. A Banda Mecos. A melhor combinação que vi até hoje em grupos de "entertainment" (bebia-mos da expressão dos vossos olhos a vontade de partilhar aqueles momentos. A euforia, a alegria, as gargalhadas contagiantes, os encontros consecutivos daquelas pessoas que já se conheciam porque partilhamos o mesmo espaço durante meses, anos, ... vocês conseguiram criar uma "geração" (sinceramente creio que sim, de vez em quando encontro alguém que não vejo à imenso tempo e surge a frase "lembras-te das noites no Xafarix com a Banda Mecos?" - isso é marcar uma época!).
Penso que a fórmula era mágica. As imitações fizeram parte e eram momentos hilariantes, o Español e a sua voz de tenor era impressionante, as canções do Gonçalo que transmitiam tranquilidade e doçura, o Rui (ao princípio tão tímido), o Nuno e as suas brincadeiras de "pequenino" e mais tarde o Zé Brasileiro. Considero que os "covers" ajudavam, porque rapidamente contagiavam o público e sem qualquer pudor cantávamos livremente. Eram momentos de diversão extrema (actualmente com o "stress" do dia a dia fazia-me falta algo assim :o). Era o verdadeiro conceito de "Relax". Depois como dizes tu, chegaram os concertos. E era divertidíssimo... além disso já conhecíamos o vosso repertório e cantávamos as Vossas letras e a Vossa música - suponho que era muito gratificante para todos.
Bem Haja a Banda Mecos."
AR (18-09-03, por e-mail)

"(...)Já visitei o seu blog mas ainda não com o tempo necessário para uma leitura que merece mais atenção do que aquela que podia dar-lhe no momento. Prometo que voltarei.(...)"
CVM (17-09-03, por e-mail)

"CONGRATULATIONS!!!
Beijinhos e continua a inspirar-nos."
AR (16-09-03, por e-mail)

"Man, abriste a porta toda. fizeste bem! (...) Não sabia q a imitação de vozes era um dos teus dons. Como é q isso nunca foi explorado no grupo?(...) Achei um bom final: revela um espírito sereno sobre o passado(...)"
CM (16-09-03, por msn)

"De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra a odrem plea qaul as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo.
O rseto pdoe ser uma ttaol csãofnuo que vcoe pdoe anida ler sem gnderas pobralmes. Itso é poqrue nós nao lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
Cosiruo não?"
JP (16-09-03, por e-mail)

"Desculpa lá ainda não ter respondido no teu blogspot mas a cabeça não ajudava a pensar no que escrever."
GL (19-09-03, por msn)

Televisão e Estratégia

2ª Parte: MEMÓRIA CURTA: 10 ANOS NO MEIO


"I could have called this (...) False Memories. Not because I want consciously to tell a lie but because the act of writing proves that there is no deep freeze in the brain where memories are stored intact. On the contrary, the brain seems to hold a reservoir of fragmentary signals that have neither color, sound, nor taste, wating for the power of imagination to bring them to life. In a way, this is a blessing.(...)"
(Peter Brook, in "Threads of time, a memoir", Ed. Metheun 1999)

Nota prévia: é certo e sabido que muitas coisas aqui expostas foram sempre por mim ocultadas, especialmente a jornalistas e afins. No entanto o presente blog é um documento pessoal e livre e por isso julgo ser importante este balanço que, como entendem, pertence a um vasto ciclo de textos sobre a estratégia que preconizo para a Televisão. Achei por bem inserir o relato da minha experiência com dois objectivos: ilustrar o estado da TV em Portugal e partir da minha própria experiência para a elaboração da presente tese (aliás que outro ponto de partida pode ser mais valorado, não obstante os livros e a observação, in loco e mesmo a partir de casa, dos canais nacionais e estrangeiros). Agradecia que salvaguardassem que ao expor uma série de inconfidências, o faço no âmbito de uma reflexão contextualizada e não no regabofe da imprensa especializada.

Por volta de 1993 eu estava envolvido em dois projectos: O Teatro de Aprendizagem (criado por volta de Abril do ano anterior, cuja estreia se deu em Outubro do mesmo, com a peça, por mim encenada "Casado à força", de Molière) e a Banda Mecos criada por volta de Julho, por mim, o Gonçalo e o Espanhol, para actuarmos na Quinta da Graça, à Cruz Quebrada. O Teatro de Aprendizagem "lutava" desesperadamente para levar à cena Medeia de Eurípides o que se veio a revelar uma experiência dolorosa, para a qual não estávamos preparados e a Banda procurava um baixista (veio a encontrar o Rui Santos) para assentar praça no Xafarix, por dois anos.

Sinceramente não me recordo como lá fui parar. Sintomático.
Lembro-me vagamente de me dirigir a uma garagem transformada em misto de estúdio e escritório em Carcavelos e fazer uma experiência (casting) de imitação das vozes de Cavaco Silva e Artur Albarran para o programa Journalouco da SIC, uma vez que o imitador Canto e Castro apresentara a sua demissão. Tenho a vaga ideia que fui imediatamente aceite, naturalmente porque a situação era urgente e não havia mais ninguém que as fizesse para além do citado e do Fernando Pereira, a braços com uma mega carreira internacional nos EUA, com entrevistas à porta de gloriosos casinos, encostado a limusinas estrondosas. Estava assim aberto o caminho da fama. Foi-me, no entanto salvaguardado que deveria treinar a voz de Mário Soares para o dia seguinte, o que fiz afincadamente durante a noite inteira, repetindo infinitamente a cassete do concerto de Amália Rodrigues no Coliseu, concretamente na parte da entrega da Grã Cruz da Ordem e Espada (não tenho a certeza do título, mas recordo mais ou menos a cantilena) por parte do então Presidente da República. Ao outro dia apresentei-me para gravar e "helas" aceitaram a tentativa de réplica do Mário. Mal eu sabia que critérios, em televisão, não existem... Não sei por quanto tempo (não muito, talvez seis meses) me mantive naquelas dignas funções, o suficiente para o Sr. Castro voltar. Nem sei o que pagavam, mal seguramente, mas bem para as minhas necessidades e devo ter falado aí uma vez com a dona do circo, portanto a experiência a esse nível foi muito boa.
Mas a outros criou-me gravíssimos problemas profissionais, como que um aviso sério para os próximos dez anos: acontece que eu fazia as imitações para criar momentos de crítica e humor nos espectáculos da Banda. Eram abordagens de improviso e pura ingenuidade, que eventualmente teriam alguma graça, dependendo do estado de espírito e especialmente da situação mais ou menos de origem teatral recriada. Ou seja, as imitações funcionavam não tanto pela qualidade da interpretação (entenda-se parecença) vocal, tão somente pela diversão espontânea, que inicialmente conferiam uma certa originalidade à Banda. Acontece que com o decorrer do tempo o posicionamento natural do grupo atraía o público alvo mais ou menos pré definido nas nossas cabeças (sem nada planeado, obviamente)_ a malta nova urbana e impunha o estilo verdadeiramente inovador de repertório tendo em conta que de uma banda de "covers" se tratava (tocávamos Sitiados, Entre Aspas, Rádio Macau, Resistência e outras coisas absolutamente inéditas no circuito) . Para mim isso começava a ser incompatível com a cena das imitações, que associava a uma espécie de parolice televisiva, da qual achava que a Banda se deveria afastar urgentemente. Mas eis o que é a noção de espectáculo neste país: parte do público e principalmente os donos dos bares e baiucas em que trabalhávamos, adorava e aclamava esses momentos, fazendo-nos reféns das situações anteriormente divertidas e naifs, transformando-as agora em verdadeiras torturas para mim e para o estilo que se pretendia. Sorte que nos concertos cedo deixámos de ter esses momentos porque entendemos que não funcionava. Valeu-me nessa altura umas brincadeiras evasivas com o Mário Crespo e o Vasco Lourinho, nos seus estilos únicos de narrativa jornalística.
Numa ambivalência digna de Édipo, era precisamente daquilo que andava a fugir que procurava realizar.

Encontrei na pesquisa que fiz para o presente, por acaso, enfiado no livro "Casado à Força" a ficha de casting do primeiro programa que apresentei: "Tudo ou Nada" para a SIC. Nem sei como detenho este verdadeiro documento arqueológico, datado de 16 de Fevereiro de 1994, mas é um grande lapso. Casado à força com o início desta profissão de tudo ou nada. Estou quase a chorar.
O Cajó (então sócio do Xafarix) disse-me que tinha dito à sua amiga Teresa Guilherme que conhecia "um puto fantástico". Nem valorizei muito este facto mas a verdade é que fui efectivamente convocado para um casting. Verdade, verdadinha convocado, porque em Portugal as pessoas (os actores) descendem dos cavalos e não são convidados como no resto do mundo, são convocados, mas adiante. Cheguei com a mesma sensação que tive em 1989 e concorri e ganhei o concurso Get More Fun da Telefunken (uma fantástica viagem a Los Angeles): seguro, determinado e vencedor. Juntaram todos os candidatos (por assim dizer anónimos, porque outras estrelas também fizeram a mesma prova, em circunstâncias diferentes) no estúdio e começou a palestra. Eu não conhecia ninguém envolvido naquela produção, nem tão pouco a senhora da limpeza, embora tivesse sido indicado tal como todos os que ali estavam uma vez que não foi anunciado publicamente. Sei que desmistifico a sempre presente cunha mas foi assim mesmo, sem tirar nem pôr. Para mais decidi que não faria qualquer alusão a quem me teria indicado por minha iniciativa. Durante a palestra (proferida pelo António Reis) decidi não lhe prestar atenção, ou por outra fingir que. Todos o olhavam concentradamente e eu mirava os projectores, as câmaras, os restos de Décores, enfim todo o mundo mágico das luzes da ribalta, avaliando toda a sua dimensão e sonhando com tudo aquilo que imaginava me pudesse dar.
Funcionava como uma tortura medieval. Após cada prova alguém da produção vinha anunciar ao grupo todo os que estavam rejeitados, que abandonavam o recinto, no meio de abraços comovidos, lágrimas e desejos sinceros de boa sorte para os apurados. Eu estava afastado do grupo, aproximando-me sempre que alguém vinha proclamar algo: via na televisão um programa (gravado) em que o Carlos Mendes e o Fernando Tordo convidavam a própria Teresa Guilherme e eu imaginava-me a ser entrevistado dali a dois três meses, tivessem eles a sorte e o engenho de me escolher. Ficaram cerca de quatro pessoas para o final do casting, três longas horas depois de ter começado. Aí uma das produtoras (Carla Carvalho) dirigiu-se a mim e perguntou como soubera daquele evento, ao que respondi. Fiz a última das provas com único pensamento técnico que me ocorreu: ritmo e quebra de regras. Na verdade simulava eu próprio as provas dos miúdos, fazendo gincanas por cima das cadeiras de plástico (parti uma) e correndo e saltando animada e despretensiosamente pelo espaço, ocupando-o de uma forma que imaginava (e tinha razão) não convencional. No final, soube que os resultados seriam divulgados uma semana depois e preparei-me para abandonar o recinto das festas. Pensamento primeiro: ganhei de caras. Pensamento segundo: se não for desta, tanto me dá, tenho cá tudo. Ao cimo das escadas a Teresa Guilherme: "Então não disseste que conhecias o Cajó? Se não te perguntássemos não dizias nada pois não?" ao que gaguejei qualquer coisa e corei. Rematou com o seu conhecido: " Ah, rapaz".

Desenganem-se: no nosso país tudo o que parece em televisão, nunca é. O único motivo que leva uma estação/produtora a escolher alguém novo é simplesmente financeiro. A maior parte das pessoas que chegam, trabalham a qualquer preço e eu não fui excepção. Mas, justiça seja feita, enquanto trabalhei na SIC fui sempre relativamente bem remunerado, em comparação por exemplo com a televisão do Estado. Fui contratado para fazer 26 emissões do Tudo ou Nada, a versão portuguesa do Double Dare da Nickelodeon, por uma quantia semanal que somada mensalmente era semelhante à que auferia com a Banda. Aos 22 anos não me podia queixar... Acabei por fazer oitenta e oito emissões e fui justamente aumentado por volta da emissão setenta.
O programa era um simples "game show", onde dois pares de crianças disputavam a vitória em cada emissão. Havia perguntas e jogos físicos simples, até porque o estúdio era muito pequeno, ao contrário do americano. No final, uma prova consistente de um pequeno percurso acrobático, decidia o par que alcançava os melhores prémios.
Não tinha qualquer noção do que estava a fazer e confesso, penso hoje, que ninguém tinha. Lembro-me que achava a televisão genericamente uma pasmaceira e procurava acima de tudo, que tudo fosse muito rápido e concreto, sem perder tempo com as parvoíces do costume. Recordo também que procurava tratar os participantes como iguais, desviando-me assim da tendência paternalista corrente. Isso foi bastante apreciado. O que eu não sabia é que as pessoas (familiares, público em geral, meio televisivo) só fazem apreciações sobre o que está bem. Omitem os erros e eram muitos, especialmente os de português e a falta de preparação para as entrevistas, já por si difíceis, com interlocutores que pouco têm a acrescentar ao Estado na Nação e à Conjuntura Internacional.
De qualquer forma o programa tinha um "boneco" (designação do meio para aspecto televisivo sobre a fotografia e o Décor) suficientemente inovador, para que o sucesso fosse alcançado. Efectivamente por causa, primeiro, do "Tudo ou Nada" e, depois, de toda uma vasta estratégia, a SIC passou a dominar o share infantil, especialmente ao fim de semana e numa altura em que após o desencantamento sugerido pela não liderança no arranque (a RTP de Eduardo Moniz segurava a audiência com unhas e dentes) se preparava a inversão. Caí assim nas graças do Emídio Rangel, até porque ele sempre aparentou uma empatia forte com os seus diversos colaboradores, o que óbvio dadas as funções que desempenhava. Sensivelmente a meio do programa surge um proposta irrecusável: apresentar o "Rock Rendez Vous" em formato televisivo, para a RTP2, com aumento de cinquenta por cento no salário e prestígio garantido, especialmente para quem como eu que vivia de um projecto na área da música. Decidi que iria aceitar e isso mesmo transmiti à Teresa Guilherme. Ela falou com o "chefe" e acabei convocado para o gabinete dele nesse mesmo dia. Como estar numa reunião com o Emídio Rangel e a Teresa Guilherme? Borrifei-me simplesmente e expliquei que para a minha actividade fazia muito mais sentido ir para a RTP2, o.k. era a 2, mas mesmo assim. Rangel contra propôs-me duas saídas: assinava um contrato com a SIC (eu era tarefeiro da Teresa Guilherme Lda.) idêntico aos "apresentadores da casa", escolhidos no primeiro casting da estação (José Figueiras, Ana Marques e Cândida Pinto) ou; mantinha-me como "free lancer" ligado à SIC, que ele próprio asseguraria que me arranjava mais programas para apresentar e inclusivamente (eu explicara-lhe que era actor e quanto muito músico, não apresentador "tout cour") teria a oportunidade de fazer uma novela na Globo, uma vez que se preparavam par recrutar dois actores portugueses. Fizesse o que fizesse não poderia abandonar a SIC. Apesar de enxertado em corno de cabra, surpreendentemente foi o que fiz.

Não posso dizer que Rangel me tenha mentido. Apesar da sugestão da Teresa Guilherme, não assinei contrato nenhum. Achava simplesmente que me exploravam e se ficasse com uma remuneração mensal ainda mais, embora mais seguro. Reconhecem-me malta? Passados uns dias mandei dizer (boa piada) que ficava a aguardar as oportunidades sugeridas, especialmente porque acreditava piamente que conseguiria ir para o Brasil (fui efectivamente à entrevista, nos estúdios da informação, conduzida pelo António Borga, mas nada aconteceu a não ser para o Paulo Pires) sem ter percebido que o que Rangel queria dizer era isto: " Serão mil cães a um osso e nós pouca ou nenhuma influência vamos ter na decisão da Globo", mas se calhar ele próprio não teve essa noção e há-de ter prometido a Globo em muitas horas de apuro...
Mas com o mercado televisivo atrás dos meus serviços, em Dezembro de 94 apresentei um especial de Natal da SIC (três horas diárias, durante 14 dias) e meti mais algum ao bolso, para logo em Março de 1995 passar para o Prime Time.

Chris Evans é um brilhante criador televisivo e radiofónico lá para os lados do RU e inventou uma das peças mais brilhantes de televisão de sempre: "Don´t forget your touth brush" (Não se esqueça da escova de dentes) que é vendida para toda a Europa, incluindo Portugal. A SIC prepara-se para dar a machadada final na RTP e conquistar a liderança nas audiências. O programa dificilmente consegue "pegar" nos restantes países, uma vez que grande parte do seu mérito se deve ao carisma do seu autor/apresentador, tendo em Espanha sido emitido três únicas vezes, após as quais foi cancelado. Em Portugal, não. Não só se aumentou a duração por programa em um terço, como se projectou imediatamente quarenta e seis emissões, aumentando de forma substancial o tempo total, logo a necessidade de criar ideias, para além das propostas pelo autor original. É evidente que nem todos conseguimos ser tão brilhantes como o Chris Evans (senão não estávamos aqui) e portanto lá abraçamos o projecto todos contentes, porque o caso não era para menos.
A coisa foi-me, mais ou menos, posta nestes termos: era necessário um actor que conseguisse ensaiar e treinar o público, de modo a que este fosse não só fervoroso, mas também participasse, respondesse e até dialogasse com a apresentadora e produtora da versão portuguesa. Lembro-me de ter sugerido o João Ricardo, acompanhado de mais dois ou três jovens actores que trabalhavam comigo no TA. Passados uns dias fui efectivamente convidado a desempenhar essas funções (fazia algum sentido, porque na Banda essa era um pouco a minha missão, embora de forma totalmente espontânea) acrescido das de Assistente da Apresentadora, em pleno programa, portanto um conveniente e verdadeiro dois em um. Obviamente aceitei, lá veio mais algum e para ser sincero gostei do trabalho de animador e provocador do público, mas vendo a esta distância a parte do programa, em si, foi bastante negativa. Primeiro a imagem: os Estúdios da Tóbis eram péssimos. Não tinham ar condicionado e é bom de ver aquela gente toda (cento e cinquenta de público, mais quarenta de equipa), no tempo em que o conceito luz fria era uma miragem, fazia com que se atingissem temperaturas de cinquenta graus centígrados. Para além disso ninguém para além de mim próprio, o outro, tomava decisões sobre aspectos físicos tais como indumentária, cabelo e maquilhagem. Acho, igualmente, que nunca encontrei o tom certo na contra cena com a Teresa Guilherme, uma vez que temos estilos diametralmente opostos. Finalmente, até tive algum prazer nas sequências exteriores (eu ia efectivamente destruir as casas das pessoas que se habilitavam a ganhar novos equipamentos) mas duvido um pouco da qualidade do produto televisivo final das mesmas. Ou seja, tal como os outros nesse e noutros programas, estava bem enquadrado: sobrevivia. Não pensava, não utilizava nenhum conceito técnico ou estético, simplesmente sobrevivia.
Nem dois anos passados sobre a minha entrada no meio e triunfal já chegava ao prime time, acrescido da passagem para a liderança das audiências, pela SIC, inclusivamente através do programa "Não se esqueça da escova de dentes" que ombreava inicialmente e passou a vencer o programa mais visto da RTP, "A mulher do Sr. Ministro" (eram transmitidos no mesmo dia).
Em Junho de 1995 é me igualmente confiada a condução de "Os Conquistadores", programa infantil de Verão, com quarenta e duas emissões e repetição em 1996. Valeu-me o meu primeiro carro novo, um VG Polo e de resto mais nada aí ficará para a história da comunicação...

(Chris Evans abandonou a televisão nos finais de 1995 (dois anos após o ingresso) para se dedicar à sua paixão: a rádio. Em Julho de 1997 despede-se do programa de maior audiência da Rádio Britânica (Breakfast Show) em colapso com o Director. Cinco meses depois recusa uma proposta considerada "escandalosa" para voltar à antena da BBC e ingressa na Virgin Radio.
Em Novembro de 2000 lidera uma lista de famosos britânicos dos media, "avaliado" em setenta e cinco milhões de libras. Em 2001 foi despedido da Virgin Radio, depois de faltar ao programa da manhã cinco dias seguidos, alegadamente para participar numa jornada de bebedeira com a mulher e um amigo. Acusou a estação e pediu uma indemnização de oito milhões e meio de papagaios ingleses, mas o tribunal (já em Junho deste ano) mandou-o definitivamente dar uma volta. Enfim, só em Portugal é que não se pode brincar assim).

Não completei as quarenta e seis emissões do "Escova", porque tive um acidente de mota na Costa da Caparica, a 15 de Agosto de 1995. Fiquei-me pelas vinte e cinco, o que não foi nada mau para quem se iniciava... Do acidente não adianta falar muito, porque não é trabalho e porque sobre isso a memória não é curta. Mas será interessante ver o ponto de vista do meio. Em primeiro lugar a equipa do programa foi excelente. Preocupados, cuidadosos e solidários, especialmente a Teresa Guilherme que não só me apoiou incondicionalmente (não que alguém esperasse que não o devesse fazer, mas fê-lo) como em vez de me substituir nos programas finais, encontrou uma solução interna de compromisso com o maestro (mais correctamente o arranjador e responsável da banda residente) Armindo Neves a desempenhar parte das minhas funções, algo que dado o meu estado apreciei. Emídio Rangel também acompanhou o processo de forma mais ou menos distante, mas preocupada e solidária. Aliás às dez da manhã do dia do acidente recebi uma chamada sua (as redacções recebem, não sei como, a lista de pessoas que dão entrada nos hospitais e compete a um estagiário avaliar se daí provém alguma matéria de interesse público, daí que tenha descoberto o incidente).
O pior foi a revista Caras. A directora de então (hoje administradora no grupo) solicitou-me, por terceiros, que lhe desse o exclusivo para sair no número zero, distribuído gratuitamente em três jornais diários e um semanal (se não me falha a memória). Recusei imediatamente essa ideia porque era uma perversão a que nunca me quereria sujeitar, já bastava o que bastava. Resultado: lá fui cilindrado e convencido a dar o exclusivo, sob troca de que acompanhariam todo o processo de recuperação. Apareci no cantinho da capa constituída pelo feliz casal Eduardo Moniz e Moura Guedes, todo o país ficou a saber que me espatifei todo (muitas pessoas ainda me perguntam se eu gosto de motas, o que nunca foi o caso) e as reportagens sobre a recuperação? Lá fizeram uma porcaria ou outra depois de muita insistência minha. Anos mais tarde essa directora (repito: ainda muito poderosa, não como o Bush, mas assim como qualquer director de televisão) disse a amigos comuns que eu nunca mais apareceria na Caras. Mas só para a chatear até já apareci e mais que aquilo que eu quero!
Com o "episódio Caras" senti a primeira traição da vida profissional. Não que não tivesse sido traído antes mas se calhar não realizei e depois: aqui não tinha ganho nada com aquela exposição. Compreendam que, hoje, me estou completamente a borrifar para revistas e afins, especialmente as de pornografia social, porque se não for social... Acontece que aquele, ficou combinado, seria o meu único veículo para com as massas, com o público, as luzes da ribalta, o sucesso, o dinheiro e etc. Mas pela primeira vez eu não controlava a situação. Pensava no limite da minha insegurança que estava tramado. Ainda bem, por um lado, que o acidente aconteceu naquela precisa altura. Decidi que precisava de tratamento e fui fazer psicanálise que com o tempo se transformou em psicoterapia, não que tenha tido alta, pelo contrário, mas quando se começou a desimpedir a cave descobriram-se mais coisas que as que se estava à espera e por aí fora. Costumo pensar que um dia retomarei a análise, quando estiver praticamente curado.

Em Fevereiro de 1996 estava de volta às lides para posteriormente não voltar à SIC.
Ao fim de trezentos programas o Júlio César demitiu-se do programa "Minas e Armadilhas" (até parece que o estou a ver a dizer aquele "os apanhados da SIC", no seu jeito tão característico) e faltavam onze emissões contratadas, para depois se decidir a continuação ou não do programa. Ainda a coxear e magro que nem um vira-lata apresentei-me ao serviço. Desconheço as causas do meu antecessor, mas quando entrei na Comunicasom (do Manolo Bello, hoje líder de mercado na produção audiovisual) a minha primeira tarefa era ler todas as revistas onde a minha nova parceira, Marlene Mourreau, aparecia na capa. E não eram nada poucas. Sem perceber onde queriam chegar, torci um bocado o nariz e propus que falássemos de televisão. Era esperado que eu aceitasse a minha parceira e a respeitasse como profissional, o que também não entendi porque outra coisa não me tinha passado pela cabeça. Os ensaios decorriam de véspera no hotel da rapariga, entre entrevistas a mais e mais revistas, a quem Marlene confessava a sua paixão por Dani, o craque do Sporting e do "Bas Fond". Não que o rapaz, coitado, a conhecesse pessoalmente (acho que só o Kennedy e o Sá Pinto se tinham cruzado com ela) mas ela insistia naquela estratégia, que parecia dar resultados. A minha humilde missão era simples: como a rapariga era francesa e não dizia uma palavra em português (o que para quem era co-apresentadora é no mínimo estranho) eu tinha de a ensinar a pronunciar. Bem comportada escrevia as palavras tal e qual lhe soavam, a partir da fonética e ao outro dia a coisa era uma merda, mas também acho que ninguém estaria propriamente atento à nossa interpretação. Ao fim de onze programas, o Rangel mandou aquela farsa palaciana às urtigas e eu fiquei desempregado. Justiça seja feita que nesse programa ganhei aquilo que acho rigorosamente justo para um apresentador de televisão, nas minhas condições de então. Os ensaios não eram pagos...

Durante cerca de três meses e após o desaire do "Minas" não recebi nenhuma notícia da Direcção de programas. Não obstante, quando convidado para o programa a seguir ("Aventura é aventura", na RTP1) ainda me dirigi à SIC e expus o problema. Emídio Rangel fez-me saber nos corredores da SIC (pelo António Borga) que não tinham de momento nenhum programa para eu apresentar, só lá para Outubro haveria novidades. No meio da minha ingenuidade quando surgiu nova oportunidade de trabalhar no prime time, agora na RTP (Os Principais!), ainda me dirigi à SIC mas sem qualquer efeito, pois não fui recebido. Para mim foi bom, dessa vez tive sorte. Nunca mais vi Emídio Rangel, até ao Natal de 2002, onde o abordei casualmente num peditório para a Associação Abraço, à porta do El Corte Inglês. Desfez-me em elogios rasgados durante dez longos minutos. Disse-me que deveria aparecer para conversarmos, etc., etc. Ainda lhe enviei um e-mail, sem consequências.

Duas notas finais sobre a minha passagem pela SIC: em primeiro a imprensa. Não é novo que eu me dou muito mal com a crítica e imprensa cor de rosa. Contam-se pelos dedos de uma mão os jornalistas a quem acedo falar ou tirar fotografias. Em Maio de 1995 a revista Dona (já desaparecida, paz à sua alma) fez umas alusões do foro pessoal. Liguei para a redacção e ante a recusa do director em ouvir disse mesmo à sua secretária que se voltassem a falar da minha vida privada eu mesmo me dirigiria às instalações e as partia todas, dando assim um bom motivo de reportagem. Ironia das ironias, nem uma semana depois solicitaram-me para uma entrevista e deram-me a primeira página, felizmente única (sozinho) até hoje.
Segunda nota. O realizador de todos os programas que fiz na SIC (e mais dois na RTP), foi o Carlos Coelho da Silva com quem estabeleci uma fraterna amizade que perdura até hoje. Curioso pensar que se opôs à minha escolha para o "Tudo ou Nada" (embora derrotado pela patroa e pelo António Reis) e que dez anos depois conservamos uma sólida e proveitosa relação.

Em Julho de 1996 a passagem para a RTP, que foi também um pouco casual. A Duvideo era (e é) a produtora técnica (ou seja aluga os equipamentos de captação e edição) da Teresa Guilherme Lda. e também do "Minas e armadilhas". Conhecedores portanto das minhas características convidaram-me para apresentar o "Aventura é aventura" (treze emissões, na RTP1), programa juvenil, apoiado pela União Europeia, para a promoção do Leite. Tratava-se de um mini concurso de provas radicais e decorreu na Serra da Arrábida.

Em Outubro nova viragem para cima. Fui convidado para o casting de um programa infantil, para a RTP1, produzido pela 6/25, posteriormente Altavision, comandada pelo José Nuno Martins. Disseram-me, mas não posso aferir, que foi por pressão do Nuno Artur Silva (então assessor do Director de Programas Joaquim Furtado) que fui o escolhido. Desconhecia que se tratava de um produto para o prime time, portanto lá fiz o casting descontraidamente e penso que mais ou menos bem.
Apesar de meio mundo me ter avisado de muitas coisas sobre o José Nuno Martins, decidi evitar que isso me influenciasse e avaliar por mim mesmo. Em boa hora o fiz porque sempre tivemos uma relação boa e cordial, provavelmente devido ao facto de nunca me ter sentido atemorizado por ele. Normalmente os monstros do meio são mais criados pelo diz que disse, do que pela própria verdade dos factos e falo com conhecimento de causa (já encontrei alguns profissionais que após o contacto inicial, se confessam surpresos pela minha personalidade, uma vez que muito lhes fora dito), mas acho que isso é transversal à maioria dos meios profissionais portugueses.
"Os Principais" foi um verdadeiro sucesso a vários níveis, fruto do algum prestígio da ideia. Efectivamente em oposição ao Mini Chuva de Estrelas (que estivera debaixo do fogo da opinião pública), neste programa as crianças efectivamente cantavam, inclusivamente acompanhadas por uma banda ao vivo. Durante as vinte e seis emissões desfilaram miúdos com talento, à razão de cinco por programa e com um repertório abrangente e ecléctico. Tive, é verdade, algumas questiúnculas referentes ao estilo de apresentação e mesmo no que à indumentária diz respeito: efectivamente o José Nuno queria que eu fosse vestido por uma loja de fatos para homem muito clássicos, contra a minha vontade e a do Figurinista. Para me vingar decidi pintar o cabelo de vermelho, com a conivência da Isabel Queiroz do Vale, que abraçou a ideia de braços abertos. Durante três emissões lá apareci eu de cabelo à punk, mas vestido como um homem trinta anos mais velho, tendo depois sido combinado que eu passaria a ser vestido pelo José António Tenente.
No dia da primeira gravação tive a única discussão grave com o patrão, que a mim se dirigiu de forma que considerei menos correcta, pelo que deixei bem claro que seria a última vez. De facto foi, provavelmente pelo imediato sucesso que o programa obteve, nunca mais fomos vistos a discutir, pelo menos daquela maneira.
O programa era líder de audiências na RTP e combatia a SIC taco-a-taco, tendo na final obtido um espectacular 15,4% de rating, considerando duas horas e tal de emissão em directo. Foi o meu primeiro directo e tudo correu de forma extraordinariamente feliz. Apesar de três ou quatro falhas no teleponto (umas por motivos técnicos e outras por distracção do operador) e da vez em que a câmara que era suposto dar a minha imagem ter caído (imediatamente forcei um operador de Câmara à mão a parar e poder captar o pivot) nunca perdi o fio à meada e senti sempre que estava finalmente no topo a que um profissional poderia aspirar: condução de programas em prime time e em directo, bem aceites por público e crítica, numa panóplia de sucesso e prestígio, nunca antes alcançados. Também não vou dizer que sabia exactamente o que estava a fazer, porque acho que não tinha a noção exacta, mas o programa era bem estruturado e cuidado ao pormenor, pelo que resultava, é o máximo que se pode dizer. A equipa técnica era de boa qualidade, fora os imbróglios pessoais em que me meti. A remuneração era péssima (inferior ao primeiro programa que apresentara dois anos e meio antes, no horário da manhã) e lembro-me de ter andado quase um ano atrás da RTP para me pagar.

(continua)

terça-feira, setembro 16, 2003

Televisão e Estratégia

2ª Parte: MEMÓRIA CURTA: 10 ANOS NO MEIO


(continuação)

Actualmente nunca espero que me façam esta ou aquela justiça mesmo que desempenhe um excelente trabalho, mas na altura acho que esperava. (O título desta crónica deveria ser: "Oh, Santa Ingenuidade!").
A direcção de programas nomeia-me para apresentar o concurso Miss Portugal 1997, por volta de Abril/Maio. Contacto a Sra. responsável por parte do Correio da Manhã, que me oferece cinquenta contitos para conduzir o espectáculo. Digo-lhe simplesmente que aceito fazer mas que pode guardar o dinheirinho porque o meu Cachet é algumas vezes superior a isso. À borla, lá me apresento no gabinete de um conhecido estilista que vai comandar todas as operações, embora aparente de moda nada perceber e televisão muito menos. Na tarde da véspera do evento chego ao Casino de Espinho e passo longas horas sentado sem que ninguém me dirija a palavra. Por fim, uma senhora lá me vem dizer que é a assistente de realização. Relembro que precisarei de teleponto, uma vez que nem o texto tenho logo não o poderei decorar, para além de necessitar de ensaiar, motivo pelo qual estou ali desde a hora combinada. Aparentemente por via da colocação das câmaras o meu pedido é recusado, uma vez que à distância a que a minha câmara é projectada eu não conseguirei ler (no entanto na noite do programa a câmara está efectivamente perto, pelo que concluo que simplesmente se esqueceram de transportar o teleponto, como houvera sido combinado). Por volta das nove horas informam-me que o pessoal da RTP não trabalha mais, pelo que a hipótese de ensaiar fica anulada. Vou com as restantes apresentadoras (em cada parte estarei acompanhado por uma ex. Miss) para o quarto de uma rapariga de cabelo azul, que é a autora do texto e a responsável pelos apresentadores, mas não ensaiamos nada uma vez que passamos o tempo a ouvi-la resmungar com a vida. No dia seguinte também não é possível ensaiar, o que a mim me dá igual porque já tenho o texto na mão. Da parte da tarde percebo que o estilista não tem roupa para mim e solicito à minha mãe que se desloque a Espinho com um fato meu. Assim acontece. Uma hora antes de começar a emissão o estilista, a senhora do cabelo azul, as apresentadoras, a Xana Nunes (que comanda o desfile e de quem fiquei com boa impressão) e eu encontramo-nos numa sala. O estilista e a cabelos azuis começam a alterar o texto (eu próprio tinha recortado e colado os meus cartões) de alto a baixo. A Xana Nunes olha-me em pânico e eu estou surpreendentemente muito calmo. Penso: mudem o que quiserem, não me interessa, não posso estar nervoso. Tendo ainda um quarto de hora para refazer alguns cartões (aqueles que não foi possível rasurar) entro em cena sem saber o que me espera.
Sem nenhum erro faço tudo à primeira (pudera, em directo) sem qualquer ensaio ou mesmo briefing que seja. Na altura de coroar a Miss Portugal não nos entregam o envelope com o resultado e não recebo indicação de ninguém que se preparam para o fazer. Aliás denoto, enquanto eu e a Carla Caldeira enchemos chouriços, uma apatia aterradora. Saio de cena e lá encontro a tranquila assistente de realização a caminhar calmamente com o dito. Abro e anuncio o primeiro nome como Dama de Honor, quando na realidade estava escrito por ordem decrescente e não crescente como era suposto revelarmos. Nesse instante apercebo-me do erro e imediatamente penso: segue e não digas nada. Se voltar atrás será uma bronca, se continuar azar de outrem. Imediatamente um bom samaritano (o membro do júri nomeado pelo Correio da Manhã) começa a acenar negativamente com o braço e pronto. Tenho mesmo de voltar atrás.
Lógico que os jornais (capa da Capital no dia a seguir "Bernarda nas Misses", mas não guardo nenhum rancor à então directora Helena Sanches Osório, igualmente paz à sua alma) e o meio me desfizeram com a rapidez com que puderam, mas isso não me interessou para nada. Pelo contrário acho que o público tem outra visão. Nessa mesma noite tive um concerto na Guarda para cerca de duas mil pessoas, pelo que parti imediatamente de Espinho. Quando acordei na manhã seguinte dirigi-me ao pequeno almoço, numa pastelaria. Uma velhinha olhou-me de forma intensa e curiosa e perguntou-me se eu não seria quem sou (uma das perguntas mais frequentes que oiço) ao que respondo afirmativamente. Disse-me que adorou a edição de ontem das Misses, que nem costumava ver porque é sempre uma porcaria, mas que se divertiu muito comigo e portanto até deu o seu tempo por bem empregue. Sei que estão a achar isto mentira, porque eu próprio não sei se hei-de acreditar em anjinhos, mas lembro-me de ter pensado naquela altura que jamais esqueceria a generosidade daquela senhora. Desde o surgimento das televisões privadas, até ao dia de hoje, foi o concurso que teve mais audiência (mais de 12% de rating), o de 1997.
Cometi um grave erro, que hoje já não faria: não ter exigido solidariedade e protecção à RTP. Borrifei-me e segui viagem.

Em Outubro desse ano decido criar uma empresa de conteúdos audiovisuais: HB Produções, que ainda hoje existe apesar de todas as dificuldades de uma pequena empresa, especialmente nesta área cheia de tubarões. Produzo então o Riaventura (treze emissões na RTP), apoiado pela Águas de Portugal, com que estabeleço uma sólida relação empresarial, que se perpetua nos anos vindouros, fruto também da minha necessidade de criar conteúdos ligados ao ambiente, especialmente na área da educação. Reparem como até hoje não existiu ou existe nenhum programa de televisão português de Pedagogia Ambiental direccionado às crianças, exceptuando o ECOMAN, do qual já falarei. Foi a minha primeira experiência como produtor (o Riaventura) e não obstante o resultado televisivo não fazer muito o meu estilo, a audiência foi satisfatória o que levou a televisão do estado a repetir a emissão várias vezes e em vários canais. Para além disso consegui com poucos meios fazer muita coisa, o que é sempre compensador. Fico quase dois anos sem trabalhar em televisão (por isso é que me vou habituando) e volto em Junho de 1999 com nova produção para a RTP, desta vez um clip diário em prime time denominado ECOMAN.

Foi sem sombra de dúvidas o projecto em que mais gostei de participar. A melhor causa também. A ideia surgiu a partir da proposta da Águas de Portugal de se associar à RTP e fazer um programa, género Vitinho, que convidasse as crianças a ir dormir. Inicialmente pensei num clip com uma rapariga (considerei até a Lúcia Moniz, embora nunca lhe tenha dito) inserida numa animação simples e colorida. Posteriormente tive a ideia final: criar um super herói defensor do ambiente. Para lhe dar corpo lancei um desafio aos estudantes finalistas da Escola Superior de Belas Artes, para desenharem este herói. Muitas e engraçadas propostas chegaram, mas desde o início soube que a do Sérgio Tomé era imbatível. Apresentava uma personagem cheia de vida e estilo muito inspirada na manga japonesa, o que com o transporte para o real se perdeu um pouco. Chamei-o para o conhecer e gostei muito daquele talento profundamente humilde e responsável que veio a ser afinal o mentor do aspecto físico do ECOMAN. Para a alma, convidei o Carlos Coelho da Silva (que reencontrei algures, anos depois de termos trabalhado pela última vez) que aceitou realizar o projecto. Consistia de duas acções distintas: na primeira os pais (Sofia Sá da Bandeira e Mário Redondo) adormeciam uma menina, contando-lhe uma história ambiental diferente todos os dias. Para tal registámos 120 histórias (de um minuto) que foram repetidas três vezes, perfazendo o total de 360 emissões, escritas pelo José Zambujal, que conheci nos Principais. Gravámos nos estúdios da RTP, na 5 de Outubro, onde hoje se emite o Telejornal e com a equipa da casa. A experiência foi bastante positiva ao contrário do que eu inicialmente temia, pois toda a gente se empenhou no projecto. Estava a RTP sob direcção de Maria Elisa Domingues que, por via da sua directora para os programas institucionais (Arlete Perdigão), abraçou a nossa proposta de forma entusiástica.
Na segunda parte o boneco ECOMAN, em action figure, ganha vida e voa para uma quadro colocado no quarto da menina e entra num mundo virtual. O clip de dois minutos é interpretado por mim: ECOMAN, única personagem real num ambiente de animação 3d, contracena com o vidrão (voz de Miguel Angelo), a nuvem (voz de Dulce Pontes), o rio (voz de Carlos Guilherme), o chafariz (voz de Olavo Bilac) e a árvore (Maria João Silveira). Durante esse período vai solucionar vários problemas ambientais e salvar o planeta, terminando com um alegre coro de flores (várias crianças).
Para fazer a animação, eu e o realizador, sonhámos com alguma empresa inglesa que aceitasse entrar no projecto. Por exemplo na The Mill (cuja associada The Mill Film, pertence aos irmãos Ridley e Tony Scott) o director geral foi chamado à nossa presença e indicou-nos que o director de fotografia seria o mesmo de AntZ, uma vez que era seu amigo e acabara de chegar dos EUA. Estávamos na alta roda deliciados com aquela pesquisa de mercado quando começaram a chegar os faxes com os orçamentos. Nenhum mais baixo que três vezes mais aquilo que dispúnhamos. Realistas fomos para Espanha e lá encontrámos uma empresa que executou a animação 3d, nomeadamente a Enefecto do Grupo Vídeo Efecto, líder de mercado naquele país. Ainda assim arranjámos em Londres uma empresa que construiu o fato do ECOMAN, em foam latex, no tempo recorde de três semanas. Olhando hoje para o produto final, penso que está bem conseguido se tivermos em conta o target a que é dirigido. No entanto (com outros meios financeiros e) com o tempo de execução apropriado teria sido muito melhor, não só a animação, como principalmente o look final do protagonista.
Com audiências satisfatórias (vencia, por exemplo, Os Patinhos quando colocado em igualdade de circunstâncias) e níveis de impacto excelentes, rapidamente se tornou um êxito junto da criançada e como repercussão tivemos imensas solicitações para actuar em escolas do ensino básico, o que realizámos em cerca de oitenta (número oficial). Chegaram a aparecer máscaras de carnaval à venda (não conseguimos detectar onde, embora tivéssemos relatos de inúmeras crianças vestidas à ECOMAN).
O programa teve uma repercussão internacional deveras surpreendente. Em primeiro lugar foi distinguido no 1º Ulisses- International Film and Television Festival for Children, com o prémio Melhor Filme Educacional e única menção atribuída a um projecto português, foi destacado pela revista Time (e aqui tenho que vaidosamente acrescentar: esta já ninguém me tira!) no caderno especial dedicado aos Heroes for the Planet, levando-nos a viajar a São Francisco, onde fomos recebidos com pompa e circunstância pelo Sr. Mayor Willie Lewis Brown, Jr., no Massonic Center em Junho de 2000. Foi ainda citado no programa Union Libre da France 2 . A nível nacional recebeu o Prémio Nacional do Ambiente Fernando Pereira, atribuído pela Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente, o que é absolutamente inédito pelo facto de nunca a referida Confederação distinguir projectos promovidos por entidades de orientação governamental.
Aqui há um pequeno lapso. Efectivamente recebi uma circular da RTP para ir receber o prémio mas não pus lá os pés porque tentava negociar com o então director de programas (Jaime Fernandes) um novo projecto para o ECOMAN. Nunca deu nenhuma resposta o que me fez intervir junto do presidente da administração, João Carlos Silva. Seguiu-se Emídio Rangel, na direcção de programas, que remeteu o assunto para a ainda directora de programas infanto/juvenis Maria João Martins. Após duas reuniões, onde transmitiu todo o interesse em concretizar o novo projecto, nunca mais respondeu às dezenas de solicitações que lhe enviei (tenho obviamente o registo dos e-mails). Para que conste: entre Outubro de 2000 e Outubro de 2002, a RTP NÃO ACEITOU a realização de um programa a custo zero, cujo orçamento seria suportado por sponsors, por nós angariados. Pergunto: terá sido por isso? (Acrescento que o respectivo programa foi aceite por uma outra estação, verificando-se agora a dificuldade com os sponsors, naturalmente desmotivados pelas circunstâncias ocorridas. Sendo a RTP a estação que piores resultados apresenta a todos os níveis, a questão da qualidade do produto não deve ser considerada).
Portanto a experiência ECOMAN serviu para pôr em prática, antes de mais, um conceito, uma marca. Algo que não se esgota e que poderá ser aplicado em diversos formatos. Depois permitiu executar um projecto que corresponde a três premissas essenciais na criação de um produto audiovisual: intemporalidade, universalidade e abrangência. Foi a partir do ECOMAN, que comecei a teorizar sobre o desenvolvimento de conteúdos que não se limitem, nem se extingam por si próprios, mas que possam renascer e ser desenvolvidos independentemente das conjunturas, inclusive internacionais...

Depois de um especial "Os Principais!" apresentado pela Ágata (Fim de Ano de 1998) monto uma estratégia de aproximação à Altavision do José Nuno Martins, por via da inclusão do José Zambujal no projecto citado e "forço" a minha contratação para apresentar a segunda série de "Os Principais!". Foi, confesso, o plano mais maquiavélico que alguma vez montei e senti-me pela primeira vez a brincar às televisões, da forma como me habituei a ver neste curto período. (Salvaguardando a qualidade inquestionável do Zambujal, como compreendem, podia ter escolhido qualquer outra pessoa, mais concretamente procurando alguém menos experiente, logo mais barato). Quando provocado, tenho a obsessão de inverter...
Em Outubro de 1999 voltei a "Os Principais!" mas desta vez esta via revelou-se uma má oportunidade. Por motivos que desconheço (associados a questões negociais) o formato foi aumentado (seis ou sete crianças por emissão), a equipa toda alterada (sobrei eu e o realizador Richard Purdom, com quem mantenho uma excelente relação e vontade de voltar a encontrar nas lides) e o casting de talentos muito aquém da experiência anterior. Para além disso resolveram que o repertório seria essencialmente português, o que quebrou a tendência universalista verificada e vencedora. Como resultado as audiências foram muito más aliado ao facto da RTP, sob direcção do Sr. Fernandes, ter batido no fundo em todos os horários.

Por essa altura tive uma excelente oportunidade: (de novo por casting) fui escolhido para participar como actor na série "Almeida Garrett", escrita por António Torrado e realizada (e produzida) por Francisco Manso. Interpretei Rebello da Silva, um dos jovens escritores românticos da denominada "geração de quarenta". A série (naturalmente de época) tinha um relevante interesse histórico, mais não fosse porque nesse ano se evocou o bicentenário do seu nascimento e estava copiosamente cuidada. Foi um bom presente dos Deuses, apesar de loucos, estrear-me na homenagem ao pai do teatro.
Pronto. Finalmente chegava ao objectivo de trabalhar como actor (em televisão, porque no teatro fui esporadicamente laborando), aquilo para que fui treinado e para o qual sinto que tenho aptidão. Demorou seis anos mas consegui.
Mais ano e meio no desemprego e vou bater com os costados à Panavídeo que preparava a programação de um novo canal, o 21, de promoção aos canais e conteúdos da Tv Cabo.

Em Maio de 2001 a Telma Teixeira da Silva (proprietária da Panavídeo) convida-me para uma reunião. Gostei logo dela: é rápida, inteligente e uma gestora de caras_ uma típica produtora de qualidade. Expõe as ideias sobre o novo canal e pergunta-me o que quero fazer. Sem hesitações respondo (desadequadamente confesso) que posso fazer de tudo: dirigir os conteúdos gerais, realizar um programa, sugerir ideias, etc. Propõe-me conduzir um programa, "Café Portugal", que me levará a percorrer o país de lés-a-lés nos próximos dois anos e meio. A remuneração é aceitável, embora a produção de um programa por mês fique muito aquém das minhas expectativas bem como das centenas de pessoas que me abordaram, felicitando o trabalho, mas queixando-se invariavelmente das repetições. Restrições financeiras "oblige"...
Inicialmente confesso que o programa, nas duas primeiras gravações (Ericeira e Costa da Caparica), foi de total prazer e felicidade. Sem qualquer rede partia à aventura espontânea e improvisada de encontrar pessoas ao acaso e fazer humor. Fazer realmente rir, sem asneiras, nem gozar ou expor os meus interlocutores. Fiquei impressionado pela forma como decorriam as respostas às abordagens, como se as pessoas imediatamente entrassem no jogo e aceitassem as regras. Genuínas, percebiam que era isso que eu realmente queria. O operador de câmara era o Gilson Moura que também coordenava a edição, pelo que se considerava realizador e nós todos também. Nesses dois episódios a sintonia foi total e cada um dava o melhor de si mesmo. O programa teve um impacto extraordinário junto do público e do meio que não nos poupou elogios, considerando aquela abordagem verdadeiramente inovadora e cómica. Muitas peças televisivas, que constam dos diversos programas de entretenimento, passaram a procurar a mesma linguagem. Ao contrário de outros isso agrada-me imenso embora tenha, desde a primeira hora, refutado embandeirar em arco com os rasgados elogios que nos iam chegando de diversas faixas de colegas profissionais (técnicos, jornalistas, realizadores, apresentadores, etc.).
Mas ao terceiro programa um acontecimento trágico: impedidos de estacionar num acesso a uma feira em Évora, o realizador lança-se numa discussão sem sentido com a polícia, fazendo valer o estatuto de jornalista (pelo menos da carteira). Defendo-o com unhas e dentes e evito que chegue a vias de facto com um dos polícias que apenas cumpria o seu dever, mas afirmo-lhe posteriormente a falta de sentido do sucedido. A partir daí a experiência torna-se tão dolorosa quanto bem sucedida. Internamente giro infindáveis discussões (passei eu a ser o alvo preferencial, mas não único, das fúrias descontroladas do senhor) e externamente acolho a ressonância de muitas e muitas pessoas que seguem intensamente o "Café Portugal", relembrando cada cidade, cada personagem, cada novo improviso que invento. Divirto-me simplesmente a ouvir porque a minha expressão vai, dentro da medida do possível, sendo difundida no próprio programa. Acresce a tudo isto uma profunda divergência de estilo e de abordagem com o referido, mas julgo estar muito perto da ocorrência para vos poder transmitir tudo o que se passou ao longo deste delicioso e também traumático período. Prometo que contarei tudo, quando o tempo ajudar a clarificar a imaginação. De qualquer forma na "Revista" do "Expresso" sobre os dez anos de televisão privada em Portugal, lá estou eu citado como tendo "aguentado o canal 21 sozinho e isso já é elogio que chegue", o que pode ser um pouco exagerado, mas me soube muito bem, porque foi dos poucos elogios não oriundos da pornografia social que me foi dirigido. E que elogio e em que meio! Afinal aquilo que houvera proposto à Telma no nosso primeiro encontro...
Com esta sequência de sucessos consigo apresentar os vídeos dirigidos aos vendedores da Tv Cabo e protagonizar os filmes para a TAP, produzidos pela Panavídeo, realizados por dois realizadores brasileiros (Álvaro Reis e Joedna Maciel) com os quais troquei sinceros momentos de companheirismo e afinidade. No final do ano passado a crise nacional acaba com estes dois trabalhos e em Junho do corrente, a crise pessoal, com a relação profissional com o Sr. Moura (com efeitos eternos). Volto para o estado civil a que mais estou habituado nestes dez anos: o desemprego.

Entretanto participo em dois episódios da segunda série "Uma Aventura" na SIC (Outubro de 2001) a convite do realizador Carlos Coelho da Silva e divirto-me à grande em quatro sessões de trabalho a interpretar um apresentador de televisão, déspota, cobarde e hipócrita, que no meio de um incêndio atropela as crianças para se safar. O contrário de tudo o que tenho feito, portanto divertido.
Protagonizo ainda o Vídeo de lançamento da televisão interactiva (Maio de 2002), o que não deixa de ter uma certa importância histórica e por isso e por tudo o resto, fico sinceramente grato à Telma Teixeira da Silva.
Sou convidado para participar numa chanchada duvidosa da TVI e imediatamente recuso, sem hesitação. A SIC volta-me a endereçar um honroso convite, mas não chegamos a acordo financeiro.
Em Setembro de 2003 protagonizo a primeira curta metragem, "A Árvore" do jovem realizador Bruno Alves, mas ainda não está editado, portanto pouco poderei dizer. Preparo o regresso ao teatro profissional com a peça "Obsessões" a partir de Guy Foissier, com encenação de Paulo Matos, a estrear em meados de 2004.
Durante todo este período procurei sempre criar e concretizar diversas ideias nas áreas do entretenimento e da ficção. Especialmente nesta última, escrevi três episódios piloto (um drama e duas comédias, uma das quais em conjunto com a Banda, a partir das crónicas na Rádio Energia, de 1995), uma sinopse de um seriado de suspense e um filme (telefilme) autobiográfico denominado: "O inimigo público nº 1". Percorri todas as estações generalistas e diversas produtoras. Exceptuando o seriado infantil (ECOMAN), nenhuma foi aceite.

Nota póstuma: Curioso verificar que neste percurso caminhei direito por vias tortas. Ou seja, acho que comecei longe e em cada passo me fui aproximando. Nunca foi assim planeado, mas julgo ser visível que estou hoje mais perto do que gosto e sei fazer do que no início e portanto não escondo algum orgulho pessoal. Apesar das dificuldades que senti em cada passo e dados os obstáculos específicos verificados, é normal que acredite que tirei o melhor proveito. Sou feliz profissionalmente? Não, mas sou mais feliz do que quando comecei.








A seguir
3ª Parte: Os pioneiros, os do poder vigente e a geração futura.

sexta-feira, setembro 12, 2003

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Procura-se
Links relacionados com a blogosfera. Artigo de fundo procura blogs estúpidos, mal feitos, engraçados, poéticos, etc. Dão-se alvíssaras. Resposta para hbproducoes@netcabo.pt (preferência para blogs portugueses. Procuram-se também blogs de bookcrossing e flashmobs).

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Blog de mega audiência procura sponsors de qualidade para parceria estratégica. Junte-se a empresas (já patrocinadoras) de grande prestígio como o Restaurante Lucimar, a HB Produções e Marco Pinheiro Cabeleireiro.

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Foi anteontem lançado um blog que dará muito que falar. Trata-se de uma aventura de um grupo de três amigos e promete muitos jantares para discussão sobre o mesmo. www.blogmisto.blogspot.com é o endereço que vai arrasar a blogosfera.

Blogs Amigos
www.opaisrelativo.blogspot.com
www.comeseethekuala..blogspot.com

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O daquele rapaz que ontem levou um bailarico do Tio Mário...

Rapaz
Simpático, com 34 anos, profissão estável, empreendedor, com casa própria. Procura rapariga independentemente das condições, de preferência com 96. Ex. estudante académico, currículo boémio muito apreciável, sócio do Benfas e simpatizante do PS. Alcoólico em estado terminal e bom apreciador de jogos para PC. Será dada preferência a quem souber utilizar folhas de cálculo (Excel e outras) e Power Point, para discussões proveitosas sobre números e apresentações em Turco. Resposta para o e-mail deste blog.

Rapaz
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Rapariga
Procura rapariga para duo de harmónica.

Rapariga
Procura rapaz. Assunto sério, possível casamento. Virgem procura pessoa em idênticas condições. Gosta de passear, ler e ir ao cinema. Dá-se preferência a rapazes que gostem de orgias e sexo com animais.

Pagem
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Presidente
Clube de futebol procura presidente sério, cumpridor e que não entre em negociatas. De preferência sem ligação a nenhum empresário. Recompensa de 80 M de Euros.

quinta-feira, setembro 11, 2003

Feed back (9)

"Excerto de um texto do Público de ontem, 10.09.03.
Às tantas, se não nos vendessem uma globalização aldrabada, existiriam menos ricos, é certo; mas existiriam muito menos pobres.
Por uma verdadeira globalização, devemos estar contra esta.
"Em cada dia que passa, os países ricos entregam sob a forma de subsídios mais de mil milhões de Euros aos seus agricultores. Quem paga a Política Agrícola Comum (PAC) europeia ou o "Farm Bill" dos Estados Unidos é a generalidade dos contribuintes, mas quem mais lucra são proprietários agrícolas milionários como Ted Turner, o dono da Time Warner, David Rockefeler ou a rainha de Inglaterra. As transferências milionárias dos orçamentos de Estado para a agricultura geram fenómenos absurdamente imorais: cada vaca na União Europeia tem direito a uma ajuda de dois dólares por dia, o dobro do rendimento de três quartos da população pobre que habita as zonas rurais dos países em desenvolvimento; os 25 mil produtores de algodão dos Estados Unidos têm direito a um volume de ajudas anual de 3,5 mil milhões de dólares (3,2 mil milhões de Euros), uma soma superior ao produto interno bruto de toda a África sub-sahariana; no Japão, cada hectare de arrozal obriga o governo a desembolsar 10 mil euros por ano.
(...) Num cenário sem quaisquer subsídios, no total, a economia africana ganharia 210 milhões de Euros anualmente; e o saldo da balança comercial agrícola subiria para os 50 mil milhões de Euros, o valor correspondente a dois terços de toda a ajuda humanitária e ao desenvolvimento despendida pelos ricos."
Manuel Carvalho"
JP (11-09-03, por e-mail)

"Bom dia!
Nada melhor que ler um texto pela manhã que nos faça sorrir :o)
Este teu texto está muito bem escrito e é sobretudo muito "humano". Consegues transportar-me aos vários episódios (e no caso dos Monty Python é impressionante porque consegues que recorde as várias cenas da "Vida de Brian" e de outros filmes deles e rir sozinha - aqui no escritório as pessoas olham para mim como se estivesse louca: "¿mira como se rie sola?" LOL).
O episódio das notas está muito bem porque penso que desde essa altura (os 9 ou 11 anos) que não me lembrava de essa "traquinice" e recordo observar os miúdos (quase sempre rapazes) a gozar descaradamente com aqueles que "caíam no truque" e rir a "bandeiras despregadas" (com as minhas amigas).
Obrigada (mais uma vez) por proporcionar sorrisos a esta hora da manhã."
AR (11-09-03, por e-mail)

"Na manhã de 11 setembro 2003 não te esqueças de sair munido de um livro. Escreve uma dedicatória e liberta-o algures! Na via pública, sobre um banco, no metro, no autocarro num café... ao alcance de um leitor desconhecido.
A mobilização será geral em Bruxelas, Paris, Florença, São Francisco....
Vamos fazer isso também aqui."
JP (09-09-03, por e-mail)

"Saiu no passado Sábado, na revista Única do Expresso, um artigo de Luísa Schmidt a alertar para a degradação do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina...
Em resumo fala-se de áreas que se pretendem desanexar da reserva natural (para promoção, construção imobiliária e turismo), da inexistência de políticas destinadas às populações residentes em zonas protegidas e da incúria do Estado. Por tudo isto corre na Net uma petição ao ministro do Ambiente para recordar o Estado dos direitos dos cidadãos.
http://www.petitiononline.com/sudoeste/petition.html
Seria bom que em vez de chorar sobre leite derramado (tal como na vaga de incêndios), a sociedade civil agisse a tempo e horas e fizesse valer a sua posição. Não queremos outro Algarve. Queremos?"
AR (10-09-03, por e-mail)

"(...) este texto (Televisão e Estratégia) está muito bom (...) em termos de conteúdo (...) tinha lugar num jornal, n estou a brincar (...) temos que pensar numa estratégia (...)"
OB (10-09-03, por msn)

"Não te disse outra cena: achei q o teu texto do riso estava muito bem escrito. Muito bonito.(...)
Parece-me q o teu estilo narrativo vem mais ao de cima nos textos pessoais do q nos "políticos".
CM (10-09-03, por msn)

"Portogaia possível capital de Portugal
A cidade de Budapeste, capital da Hungria, é formada por dois núcleos de construções separadas pelo rio Danúbio. Dum lado Buda e do outro Peste. A comunicação entre estas duas cidades é mantida por seis pontes, que estabelecem o trânsito entre as duas margens daquele rio.
Este «escrito» tem por alvo, a exemplo de Buda e Peste, que as nossas cidades do Porto e de Gaia (em idêntica situação à daquela cidade, e separadas pelo rio Douro, que, aliás, tem sensivelmente a mesma largura entre as duas margens que o Danúbio e igualmente com seis pontes: D. Luiz, D. Maria, Arrábida, Freixo, Infante D. Henrique e São João) possa um dia ser uma única cidade.
A futura Portogaia poderia até vir a ser a nova capital de Portugal. O concelho de Lisboa, segundo o último censo, tem 564 657 habitantes; o Porto e Gaia, respectivamente 263 131 e 288 149, ou seja, o total de 551 880 habitantes. Assim, a diferença que separa Lisboa de Portogaia é apenas 12 777 habitantes. Isto é, Lisboa só tem cerca de 2,26 por cento de habitantes a mais que a futura Portogaia. Por que esperam Luís Filipe Menezes e Rui Rio (ambos do PSD) para lutarem pela nova capital? Em 1139, Portugal começou a norte, com a capital em Guimarães. Será que passados 864 anos não poderemos vir a ter a nossa capital no Norte?"
"In Diário de Noticias, cartas dos leitores 22/08/2003"
LP (08-09-03, por e-mail)

quarta-feira, setembro 10, 2003

NINE ELEVEN

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STOP THE FUCKING WAR, YOU MORONS! WEREN'T THERE ENOUGH DEATHS ALL TOGETHER?

Televisão e Estratégia

1ª Parte: INTRODUÇÃO


"In Beverly Hills... they don't throw their garbage away. They make it into television shows."

Sábias palavras de mestre Woody Allen, que tão bem se apropriam a Portugal. Acrescido que o lixo é tanto que acabamos por vê-lo espalhado pelas ruas, pelos espaços públicos interiores e perto dos recipientes de recolha selectiva, porque muitos de nós não os distinguem dos convencionais caixotes.

A minha humilde, mas cuidada asseguro, reflexão não se ocupará do "so called" "telelixo", tanto mais que concluo simplesmente que nem esse sabemos fazer como deve ser, ou seja as dificuldades televisivas no nosso país cruzam todas as áreas executivas: da concepção à execução técnica, detrás das câmaras à frente, dos convénios estratégicos aos círculos executivos de bastidores, em todas as áreas reinam, em televisão, principalmente o caciquismo, a descoordenação, a falta de know how e humildade, o desaprumo profissional e o profundo desconhecimento aos níveis descritos e outros.

A nossa capacidade de ligar o aparelho nunca deveria ser inferior à de apagar, mas temo que assim seja e esse é um problema da sociedade, não da televisão enquanto meio de comunicação (principalmente) por via da informação, de divulgação de uma espécie de 2º Cinema por via da ficção e de distracção (para as almas mais pobres) por via do entretenimento. Não deve a televisão ser confundida com qualquer espécie de arte por um lado, ou motor que seja dos processos educativos e/ou pedagógicos, uma vez que numa desenfreada cadeia de exigência um dia se esperará que a televisão passe a amar os nossos filhos e a ensiná-los a serem mulheres e homens de bem. Imagine-se que (pura intuição) a maior fatia de mercado de livros está nos manuais escolares, que não deixam de ser vendidos/comprados, tendo uma importância no acompanhamento educacional, acompanhamento sim, porque da "paedagogia" cuidam em primeiro lugar os pais e em segundo os professores. Assim até se admite que a televisão possa ser um auxiliar, porventura apelativo e motivador, desde que para tal fique salvaguardada a sua missão de comunicar acima de todas as demais. E já agora, que para tal possa ser ressarcida financeiramente de todo e qualquer projecto paralelo. Fácil e comprado está o discurso de algum poder político sobre esta matéria, porque bem se vê: é mais fácil exigir que a televisão cumpra o papel do estado, que ele próprio o faça, mas contraproducente, uma vez que se os níveis educacionais e culturais forem tão baixos como os que se verificam ninguém quererá saber de nada para além do BB4, OT2 e etc.
Imagine-se que poderíamos aspirar a ter público para um canal temático de cultura, com conteúdos principalmente portugueses, não esquecendo os pergaminhos universais da arte erudita. Se calhar até temos. Mais à frente falarei desta proposta enquadrada no Serviço Público de televisão.

(De novo por mera intuição) pressinto o país a afastar-se da televisão, nomeadamente os públicos urbanos, que comandam o negócio_ ponto de partida essencial para a actual definição de televisão. Hoje é impossível imaginar este meio funcionar sem público, sem mercado (consumidores/anunciantes), sem uma clara lógica mercantilista, afinal reflexo de toda a sociedade. Mal defendida tem sido por aqueles que a colocaram na situação actual, os que tiveram ou têm responsabilidades na programação, na produção e nas estratégias comercias, se é que essas existem... Qual a quota actual da televisão no investimento publicitário no sector da comunicação?

A informação sobre esta matéria deveria estar no site www.obercom.pt ("O OBERCOM - Observatório da Comunicação é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, participada por algumas das principais empresas e associações do sector e por institutos e instituições públicas, a saber: ICS - Instituto da Comunicação Social, ICAM- Instituto do Cinema Audiovisual e Multimedia, ANACOM- Autoridade Nacional de Comunicações, IC - Instituto do Consumidor, AID - Associação da Imprensa Diária, AIND - Associação de Portuguesa de Imprensa, o CENJOR - Centro Protocolar de Formação de Jornalistas, RDP - Radiodifusão Portuguesa, a Rádio Renascença, a RTP - Radiotelevisão Portuguesa, a SIC e a Portugal Telecom.").
Os dados aí fornecidos expiram inexplicavelmente em 2001. Confirma-se. O ano em que o país parou de vez! No entanto com um pouco de persistência encontrei novo estudo apresentado pelo observatório em 3 de Junho de 2003...
Alguns dados para reflexão (os dados referentes a 2002 são uma previsão do OBERCOM):
1º- No Investimento Publicitário Líquido em 2002 a quota da Imprensa (generalizada e regional juntas) corresponde a 44,2% e a da Televisão 41,8% (247 Milhões de Euros de um total de 591 M€);
2º- A variação de 2002/01 na Televisão é de -8,2%, enquanto a do Cabo é de 37,5%, para uma quota de 1,9% e tendo em consideração que a variação 2001/00 foi de 60,0% (o Cabo evoluiu de 3 M€ em 1999 para 11 M€ em 2002);
3º- O presente estudo omite outros meios (Outdoor, Salas de Cinema, etc.);
4º- Não obstante, na variação do Volume de Negócios 2001/00 a Televisão apresenta o pior resultado: Rádio Nacional -0,9% (Local -11,1%), Imprensa 3,6% (Imprensa Regional -12,9%), Televisão -15,0% e Cabo 48,5%;
5º- A estimativa de Volume de Negócios para 2002 apresentou um aumento de 4 M€ (para 345) e em 2003 de 20 M€ (para 361), longe dos 401 M€ em 2000.

Um estudo, interessante, apresentado na página on-line da AIND- Associação Portuguesa de Imprensa (www.aind.pt) pode ajudar a explicar os dados anteriores (focalizemos no maior "concorrente", a Imprensa, comportando revistas e jornais):
1º- Perante a questão "Todos nós estamos expostos aos meios de comunicação social. Vou ler-lhe uma lista de frases e, para cada uma delas, pedir-lhe que me diga qual o meio a que melhor se aplica", a Televisão;
2º- Domina os aspectos afectivos "O meu favorito. O que mais aprecio" (45% contra 31%), "Faz-me companhia" (49% contra 17%), "Proporciona-me mais distracção do que informação" (66% contra 17%) e "Permite-me libertar do stress e das pressões do dia-a-dia" (35% contra 27%);
3º- Assegura os aspectos de versatilidade como "Hoje em dia permite uma razoável possibilidade de escolha" (47% contra 39%) e "Mantém-me actualizado no dia-a-dia" (45% contra 42%), embora perca obviamente na mobilidade "Posso utilizá-lo em qualquer ocasião ou local e quando me convém" (11% contra 61%);
4º- Perde claramente nas questões "racionais", como "Adequa-se às minhas necessidades pessoais e estilo de vida" (30% contra 36%), "Permite-me aprofundar assuntos que me interessam" (22% contra 77%) e "Dá-me informações práticas que me ajudam a decidir sobre diferentes hipóteses de compra" (27% contra 55%);
5º- Denota uma assustadora tendência negativa nos aspectos decisivos, que medem o meio enquanto criador de opinião, assim como influente nas novas linguagens e estilos, fundamentais para os constantemente renovados anunciantes (por via das permanentes inovações dos seus produtos). "Uma boa fonte de ideias. Um lugar onde posso encontrar coisas que me interessam" (24% contra 63%) e "Mantém-me a par das últimas tendências" (23% contra 49%).

É aqui que claramente se percebe que a televisão está a perder a guerra. Gozando de um prestígio ímpar por via das infinitas possibilidades de estilo, ritmo e visualidade, começa a acusar a estupidificação permanente a que está sujeita, por quem pensa pouco, pressionado e muitas vezes sem bases teóricas. Neste estudo é surpreendente o resultado a "Por vezes absorve-me completamente" (46% contra 26%). E então? É só aproveitar esta predisposição e ganhar o público, com qualidade, inovação, "afecto", charme, criatividade, magia, variedade, respeito, isenção, tecnologia, parceria, sanidade, construção, risco, alegria verdadeira, humor verdadeiro, tristeza verdadeira, drama verdadeiro. Verdade, muita verdade. Toda a verdade. Quase sempre simulada. Bem simulada, não com lágrimas de crocodilo, nem com graças sem graça. Mãos à obra! Vamos a isto.










A seguir
2ª Parte: MEMÓRIA CURTA: 10 ANOS NO MEIO